Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Carlos Arnaud

O Grinch, do monte, vê o mundo humano, 
Noite de Natal, o riso estridente lá ecoa, 
Deseja ele roubar, em um golpe insano, 
Levando todo brilho, que o Natal entoa.

Da vila do Quem, no vale, ergue o canto, 
Corações se aquecem, em união repleta, 
E o Grinch, em trevas, traça com espanto, 
Um plano de levar embora toda a festa.

Naquela noite fria, o roubo se consuma, 
Árvores, luzes, presentes, na bagagem, 
Esperança furtada, Natal que se desfaz.

Mas o coração do Grinch, de gelo em suma, 
Desperta ao som do amor, e na passagem, 
Descobre que Natal é um momento de paz.

Carlos Arnaud

No céu de bruma, Angelina emerge, 
Como um sonho etéreo, intocável. 
Olhar misterioso, na noite diverge, 
Num enigma brando, impenetrável.

Os teus passos ecoam na penumbra, 
Sussurros suaves em uma extasia, 
Cada gesto teu, mais que vislumbra,
Revela e oculta a própria fantasia.

Bela Angelina, na dúvida do não dito, 
És a mulher que desvenda o infinito, 
E no teu ser, o mistério é presente.

O perfume de teu corpo é incenso, 
E no silêncio, sua voz é fogo imenso,
Que invade e desperta a alma da gente.

Amélia de Oliveira

Não te peço a ventura desejada,
Nem os sonhos que outrora tu me deste,
Nem a santa alegria que puseste
Nessa doce esperança já passada.

O futuro de amor que prometeste
Não te peço! Minha alma angustiada
Já não te pede, de impossível, nada,
Já não te lembra aquilo que esqueceste!

Nesta mágoa sorvida ocultamente,
Nesta saudade atroz que me deixaste,
Nada te peço! Nada! Tão somente

Neste pranto que choro ainda por ti,
Peço-te agora a paz que me roubaste,
Peço-te agora a vida que perdi!

Juvenal Antunes

Encarnação da máxima bondade,
Imagem de candura e de beleza,
Fardou-te a perdulária Natureza
Exemplo de ternura e castidade.

No indizível horror desta saudade,
Em que minha alma se debate, preza,
Fazes da própria mágoa, e de tristeza,
Um misto de tortura e suavidade.

Bendita seja, pois, mulher querida,
Que escreves e dispões de minha sina,
Como causa e razão de minha vida...

Realças na confecção de qualquer verso:
E, sendo assim tão fraca e tão franzina,
És a obra mais perfeita do Universo!

João Ribeiro

Ó Musa, cujo olhar de pedra, que não chora, 
Gela o sorriso ao lábio e as lágrimas estanca! 
Dá-me que eu vá contigo, em liberdade franca, 
Por esse grande espaço onde o Impassível mora. 

Leva-me longe, ó Musa impassível e branca! 
Longe, acima do mundo, imensidade em fora, 
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora, 
O aureo plaustro do sol nas nuvens solavanca. 

Transporta-me, de vez, numa ascensão ardente, 
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares, 
Onde os deuses pagãos vivem eternamente. 

E onde, mum longo olhar, eu possa ver contigo, 
Passarem, através das brumas seculares, 
Os Poetas e os Heróis do grande mundo antigo.

Carlos Arnaud

Na aurora de teu rosto esplendoroso, 
Desliza a luz que enche a minha vida. 
Teus olhos, estrelas em céu de gozo, 
Refletem a mais pura alma, querida.

Nos campos do amor, és flor purpurina,
A musa que inspira a vida deste poeta. 
Teu nome em versos leio, Bela Angelina, 
E no teu recanto meu coração completa.

Ao som da tua voz, terna e sincera,
Meu ser desperta, rompe, se reitera. 
Em ti, amiga, encontro paz e glória.

Ó Bela Angelina, o teu meigo sorriso, 
És para mim o mais sonhado paraíso, 
E a conquista deste será minha vitória...

Carlos Arnaud

Na névoa tênue de um dia primaveral, 
As almas suspiram memórias antigas. 
Em sombras quietas de um sonho fatal, 
Sussurram histórias e eternas cantigas.

Nos túmulos frios, repousa o passado, 
Num silêncio da fé que ecoa mistérios. 
Flores desbotadas em solo sagrado, 
Guardam segredos de amores etéreos.

A manhã fria, pálida, observa serena, 
Lágrimas que fluem como um rio lento, 
Em prece à brisa que doce envenena.

Finados, instantes de paz e tormento, 
Onde a vida e a morte dançam amena, 
Num ciclo eterno de puro sentimento.

Guilherme de Almeida
 
Mas não passou sem nuvem de tristeza
esse amor que era toda a tua vida,
em que eu tinha a existência resumida
e a viva chama de minha alma, acesa.

Nem lemos sem vislumbre de incerteza
a página do amor, lida e relida,
mas pouquíssimas vezes entendida,
sempre cheia de engano e de surpresa,

Não. Quantas vezes ocultei a minha
dor num sorriso! Quanta vez sentiste
parar, medroso, o coração de gelo!

É que nossa alma às vezes adivinha
que perder um amor não é tão triste
como pensar que havemos de perdê-lo. 

Cruz e Souza

Por uma estrada de astros e perfumes
A Santa Virgem veio ter comigo:
Douravam-lhe o cabelo claros lumes
Do sacrossanto resplendor amigo.

Dos olhos divinais no doce abrigo
Não tinha laivos de paixões e ciúmes:
Domadora do mal e do perigo
Da montanha da Fé galgara os cumes.

Vestida na alva excelsa dos profetas
Falou na ideal resignação de ascetas,
Que a febre dos desejos aquebranta.

No entanto os olhos dela vacilavam,
Pelo mistério, pela dor flutuavam,
Vagos e tristes, apesar de Santa!

Pe. Antônio Tomás

Ao sopro do terral abrindo a vela,
Na esteira azul das águas arrastada,
Segue veloz a intrépida jangada
Entre os uivos do mar que se encapela.

Prudente, o jangadeiro se acautela
Contra os mil acidentes da jornada;
Fazem-lhe, entanto, guerra encarniçada
O vento, a chuva, os raios, a procela.

Súbito, um raio o prostra e, furioso,
Da jangada o despeja na água escura;
E, em brancos véus de espuma, o desditoso.

Envolve e traga a onda intumescida,
Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura
O mesmo mar que o pão lhe dera em vida. 

Alphonsus de Guimaraens

Vestido de ouro o Sol, bom padre, canta a missa
Da luz no altar do céu. Véus de celestes damas,
As nuvens voam: cantam pássaros: e viça
Mais do que nunca o olhar de Flora pelas ramas.

Entra o Espectro. Com voz soluçante e submissa
Murmuro-lhe: Por que, se és luz, se já não amas,
Atormentar-me assim? Não haverá justiça
Final no inferno, fogo eterno, eternas chamas?

Para que perseguir-me. Anjo tristonho? Espera.
Ou antes de noite vem, quando o remorso chora,
E o luto os olhos fecha à alma da primavera.

Bem te deves lembrar: quando tu me esqueceste,
Brilhava o mesmo sol no mesmo céu de agora...
Bem te deves lembrar: foi um dia como este.

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