Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Luís Guimarães Júnior

Da agreste lira aos matinais arpejos
Foi caminhando, ó bela soberana,
A esperançosa e infinda caravana
Das minhas ilusões e dos meus beijos;

Teus largos olhos, donde a luz emana,
Eram miragens de ideais desejos;
E os lábios teus – oásis benfazejos
Cujo fulgor atrai, promete e engana.

E, após jornadas cruas e penosas,
As ilusões famintas, sequiosas,
Do teu falsário coração já perto,

Sucumbiram, ó pérfida tirana,
Como no Saara a exausta caravana
Que procura uma fonte e acha o deserto.

Benjamim Silva

Há mágoas que não podem ser contadas,
Há mágoas que não podem ser ouvidas.
Devem ficar ocultas, sepultadas,
Dentro de nossas almas, escondidas.

Deixemo-las, assim, encarceradas,
Bem no íntimo do peito, reprimidas,
Até que um dia sejam renegadas,
Postas no rol das coisas esquecidas.

As mágoas que deprimem, que envergonham,
Não deverão jamais permanecer
No coração sincero dos que sonham.

Não fales, pois, daquela que te apouca:
Teus próprios lábios poderão tremer,
E tua própria voz queimar-te a boca.

Euclides da Cunha

Se acaso uma alma se fotografasse
de sorte que, nos mesmos negativos,
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;

E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos… Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos;

Amigo! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando – deste grupo bem no meio –

Que o mais belo, o mais forte, o mais ardente
Destes sujeitos é precisamente
O mais triste, o mais pálido, o mais feio.

Augusto dos Anjos

Filha da raiva de Jeová - a Peste
Num insano ceifar que aterra e espanta,
De espaço a espaço sepulturas planta
E em cada coração planta um cipreste!

Exulta o Eterno e... tudo chora, tudo!
Quando Ela passa, semeando a Morte,
Todos dizem com os olhos para a Sorte
- É o castigo de Deus que passa mudo!

- Fúlgido foco de escaldantes brasas
- O sol a segue, e a Peste ri-se, enquanto
Vai devastando o coração das casas...

E como o sol que a segue e deixa um rastro
De luz em tudo, ela, como o sol - o astro -
Deixa um rastro de luto em cada canto!

Euclides da Cunha

Um dia a vi, nas lamas da miséria,
Como entre pântanos um branco lírio,
Velada a fronte em palidez funérea,
O frio véu das noivas do martírio!

Pedia esmola — pequena e séria —
Os seios, pastos de eternal delírio,
Cobertos eram de uma cor cinérea —
Seus olhos tinham o brilhar do círio.

Tempos depois num carro — audaz, brilhante,
Uma mulher eu vi — febril, galante…
Lancei-lhe o olhar e… maldição! tremi…

Ria-se — cínica, servil… faceira?
O carro numa nuvem de poeira
Se arremessou… e eu nunca mais a vi!

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