Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Olavo Bilac

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Luís Guimarães Júnior

Cresce a invernosa noite, um frio intenso
Morde-me as carnes: – lívido, gelado,
No leito me ergo... e escuto o desolado
Uivo do Inverno, atroz, convulso, imenso...

Tento dormir. Em vão! Escuto e penso.
Penso na eterna Ausente... Ah! se a meu lado
Ela estivesse! um beijo perfumado!
Um só! me fora ardente e ideal incenso...

Abre-se então de leve a minha porta:
É Ela! Entrou. Na palidez da morta
Uma aurora de beijos irradia:

Caminha... chega e diz-me num segredo:
“Une teu rosto ao meu, não tenhas medo:
Venho aquecer-te: – a noite está tão fria!”

Alceu Wamosy

Não me tentes assim. Fecha esses braços.
Nas dobras da mantilha oculta as pomas.
Volve esses olhos mágicos e lassos,
E essa boca sensual, cheia de aromas.

Quero fugir do mal dos teus abraços,
Das trágicas cadeias das tuas comas,
E me fazes rojar, trás os teus passos,
Mal o teu vulto tentador assomas!

O meu ser te repele e te procura,
Mulher fatal, diabólica e divina,
Geradora de amor e de loucura!

Beija-me mais! Afoga-me o desejo!
Pois, se sei que teu beijo me assassina,
Sei que sucumbo à falta desse beijo!...

Augusto dos Anjos 

E ele morreu. Ele que foi um forte
Que nunca se quebrou pelo Desgosto
Morreu... mas não deixou na ara do rosto
Um só vestígio que acusasse a Morte!

O anatomista que investiga a sorte
Das vidas que se abismam no Sol-posto
Ficaria admirado do seu rosto
Vendo-o tão belo, tão sereno e forte!

Quando meu Pai deixou o lar amigo
Um sabiá da casa muito antigo,
Que há muito tempo não cantava lá,

Diluiu o silêncio em litanias...
E hoje, poetas, já faz sete dias
Que eu ouço o canto desse sabiá!

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