Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Gregório de Matos

Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.

Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.

Juvenal Antunes

Acho tudo na vida duvidoso…
Duvido do que vi e tenho ouvido,
Da glória, do saber, da dor, do gozo,
Mesmo do teu amor, Laura, duvido.

Duvido do que é feio e o que é formoso,
Duvido do que leio e tenho lido,
E a duvidar, sem nunca ter repouso,
Em dúvidas cruéis ando perdido.

Confundo as ilusões com a realidade,
E o presente e o passado comparando,
Vejo a igualdade na desigualdade…

Duvido da mentira, quando minto,
E de todas as coisas duvidando
Duvido até das dúvidas que sinto!

Cecília Meireles

Trabalhei, sem revoltas nem cansaços,
no infecundo amargor da solitude:
as dores, - embalei-as nos meus braços,
como alguém que embalasse a juventude...

Acendi luzes, desdobrando espaços,
aos olhos sem bondade ou sem virtude;
consolei mágoas, tédios e fracassos
e fiz, a todos, todo o bem que pude!

Que o sonho deite bênçãos de ramagens
e névoas soltas de distância e ausência
na minha alma, que nunca foi feliz.

Escondendo-me as tácitas voragens
de males que me deram, sem consciência,
pelos míseros bens que sempre fiz!...

Alphonsus de Guimaraens

Celeste… É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste…
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste… E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.

Clicky