Luís Guimarães Júnior
Eu sou – dizia o berço ao túmulo profundo –
A mansão da inocência, a festival guarida:
Em meu seio de neve é que se empluma a vida:
Eu sou o amor! o amor!... E tu, sepulcro imundo,
És a voraz garganta, o abismo furibundo
Onde o leve batel, de bússola partida,
Sente cair-lhe o leme e a vela descosida:
Ó morte, és como o tigre, o teu curral é o mundo.
Respondeu-lhe o sepulcro: – Escuta, enquanto inflamas
As ambições, o ódio, as guerras, a impiedade,
Eu acolho em meu seio as iras que derramas:
Dou a flor, dou o fruto à lívida orfandade,
Despovoo o hospital, varro as imundas camas,
E aos poetas sem pão dou a Imortalidade.
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou ...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!
J. G. de Araújo Jorge
Bom o tempo que ficou, – amei-te na alegria
de uma tarde azulada e linda de Setembro,
– disso tudo hoje triste eu muita vez me lembro
enquanto uma saudade o peito crucia…
Amei-te, como nunca outro alguém te amaria,
eras o meu sonhar de Janeiro à Dezembro…
Depois… Tu me deixas-te, e ainda hoje se relembro,
Amargo a mesma dor cruel daquele dia…
Agora sem viver, – sou um corpo sem alma,-
conformo-me com tudo, e vou chegando ao fim
– como a tarde que cai bem suavemente em calma.
Já não sinto… não sofro… já nem vivo até.
– Se a vida ainda era vida ao ter-te junto à mim
hoje, longe de ti, – nem vida ao menos é!
Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Judas Isgorogota
Dois túmulos, nós dois... Ambos, ao peito,
Sob a insondável lápide marmórea,
Temos sepulta a interrompida história
De um desfortúnio mais do que perfeito.
A nossa vida é um campo santo feito
Somente para nós e para a inglória
Mágoa que sinto, a mágoa intransitória
Que te traz abatida desse jeito.
Pena é que esse mistério que nos cinge
Force a vivermos ambos, lado a lado,
Como uma esfinge junto de outra esfinge...
Sem que eu saiba o porquê de teu cuidado,
Sem que saibas que é em ti que se restringe
O meu silêncio de desventurado...