Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Nilo Aparecida Pinto

Talvez, por não ser linda, ela trazia
Uma rosa na trança... e, assim, Consuelo,
Apesar de ser feia, me prendia:
Eu namorava a flor do seu cabelo...

Coitada! Ouvindo a sua voz macia,
Mal eu punha em seu rosto o olhar de gelo...
E, em resposta, a julgar que a flor me ouvia,
Somente a flor mostrava o meu desvelo...

Um dia, ela partiu... não era linda...
Mas, de todas que amei, só ela ainda
Vem perturbar a minha vida mansa.

Pois, sinto, ao recordá-la, distraído,
Um murmúrio de pétalas no ouvido
E um perfume de rosa na lembrança!...  

Cruz e Souza 

Quando eu partir, que eterna e que infinita
Há de crescer-me a dor de tu ficares;
Quanto pesar e mesmo que pesares,
Que comoção dentro desta alma aflita.

Por nossa vida toda sol, bonita,
Que sentimento, grande como os mares,
Que sombra e luto pelos teus olhares
Onde o carinho mais feliz palpita...

Nesse teu rosto da maior bondade
Quanta saudade mais, que atroz saudade...
Quanta tristeza por nós ambos, quanta,

Quando eu tiver já de uma vez partido,
Ó meu amor, ó meu muito querido
Amor, meu bem, meu tudo, ó minha santa!

Alberto de Oliveira

Da flava Ceres falta-te ao cabelo
A cor, que o seu dourava e os trigos doura;
Tens negra a trança e, deverei dizê-lo?
Fica-te assim melhor, não sendo loura.

Crespa, enredada em serpes, tentadora,
Cheiro-a, aspiro-a, febril, e ardendo em zelo;
E ela em meus lábios, qual se a Noite fora,
De volúpia infernal me imprime o selo.

Toco-a, aperto-a, desato-a fio a fio,
Estendo-a nos meus ombros, velo ondeante;
Tomo-lhe as pontas, o teu rosto espio:

E entre os claros da trama escura e bela,
Creio, vendo-te a luz do olhar radiante,
Ver a réstia de fogo de uma estrela.

Aureliano Lessa

Há tormentos sem nome, há desenganos
mais negros do que o horror da sepultura;
dores loucas, e cheias de amargura,
e momentos mais longos do que os anos.

Não são da vida os passageiros danos
que dobram minha fronte; a desventura
eu a desdenho... A minha sorte dura
fadou-me dentro da alma outros tiranos.

As dores da alma, sim; ela somente,
algoz de si, acha um prazer cruento
em torturar-se ao fogo lentamente.

Oh, isto é que é sofrer! Nenhum tormento
vale um gemido só da alma tremente,
nem séculos as dores de um momento!

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