Augusto dos Anjos
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
A tua morfogênese de infante,
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!…
Ah! Possas tu dormir feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do não ser!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Juvenal Antunes
Passas por mim tão orgulhosa... Nada
Sou no teu coração? Pois eu queria
Ser ao menos a humílima calçada
Que tu pisas, com força, todo dia!
Mas, não me queres mal... Que se diria
Se tu fosses tão frias e tão malvada
Que, desprezando a minha idolatria,
Transformasses-me em folha bem rasgada?
Não! Tu és mais mulher do que pareces...
Sabes amar e sabes fazer preces
Pela felicidade de quem te ama!
Porque é, enfim, meu sonho verdadeiro,
És meu amor primeiro e derradeiro
E, da minh'alma, Laura, a última chama!
Carlos Arnaud
Ainda és a mesma, ó flor da natureza,
Rainha do Médio Piracicaba! Brilhante.
Torrão de amor, onde o peregrino amante,
Sorveu em silêncio toda sua triunfal beleza.
Ao certo és que possuis rara nobreza,
No teu sorriso hospitaleiro, diamante,
Que herdou de Domingos, o desbravante,
Das margens de um rio de prateada pureza.
Não há cidade mais bela,
Mais atraente quanto ela,
Na qual meu coração recata.
Lugar de mulher formosa,
De uma igreja matriz maravilhosa,
Eu te Amo São Domingos do Prata.
Juvenal Antunes
Reuniram-se três deuses vis do Averno.
Para perder-me. Disse o mais irado:
Façamo-lo imortal, pobre e aleijado,
Demos-lhe eterna vida e um mal eterno!
Disse o segundo: Demos-lhe um tão terno
Peito de pai que, ao ver o filho amado
Por um braço homicida apunhalado,
Sofra dor que comova ao próprio Inferno.
Mas, o ultimo dos três, com voz estranha,
Cujo som abalou uma montanha,
A despedir do olhar sulfúreo lume,
Por mais encanecido e desumano
Na ciência de infligir tortura e dano,
Praguejou: Basta que ame e tenha ciúme!