Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Luís Delfino

Tinha doze anos; chego; de repente
Enlaça-me com força: vou fugi-la;
Aperta-me inda mais, feroz, tranquila,
Como uma fera angélica e inocente.

Quase achei-me sem mim no atrito quente;
E ao ver-lhe o azul da límpida pupila
Molhar-se todo de um vapor luzente,
E uma inquieta tristeza enfim cobri-la,

Lento e lento arranquei-me dela, e a custo,
E sem que disso ideia exata forme,
Logo um pouco a tremer, num vago susto,

Como cansada de um trabalho enorme,
Sobre o meu colo reclinando o busto,
A face em fogo, e soluçando, - dorme.

Augusto dos Anjos

Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo do orbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!

Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho,
Como o desaguadouro atro de um rio...

E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!

Fagundes Varella

Desponta a estrela d’alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minha alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Cruz e Souza

Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...

Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...

E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...

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