Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Luís Guimarães Júnior

Quando Satã, o Arcanjo fulminado,
Pelas divinas mãos, a criatura
Obra de Deus - encarcerar procura
Entre as brônzeas muralhas do Pecado,

Explora o mundo inteiro disfarçado:
É o Ódio, a Guerra, é a Avareza impura,
A Luxúria venal, a torva e escura
Vingança... E sempre, sempre transformado,

A raça humana, estólida e ignorante,
Lança aos martírios dum cruel tormento
Mais pavoroso que as visões do Dante.

Ah! quando chega a minha vez intento
Salvar-me - Em vão! - O infame nesse instante
É mais atroz ainda: - é o Pensamento.

Luís Edmundo

Nesta vida de ásperos caminhos,
A Ventura, querida, é como a rosa:
Nasce cercada de cruéis espinhos.
E é por isso que a vida é tormentosa.

Punhais agudos, ríspidos, daninhos,
Servem de escudo à nossa mão nervosa.
Ventura, tu que embriagas como os vinhos,
Por que és, assim, tal falsa e caprichosa?

Meu amor, tu que a buscas, tem cuidado;
Que o teu gesto não seja desastrado
A erguer, assim, a tua mão formosa.

Não imaginas como sofreria,
Se te visse chorar, descrente, um dia!
A Ventura, querida, é como rosa...   

Castro Alves

Se houvesse ainda talismã bendito
que desse ao pântano - a corrente pura,
musgo - ao rochedo, festa - à sepultura,
das águias negras - harmonia ao grito...

Se alguém pudesse ao infeliz precito
dar lugar no banquete da ventura...
E trocar-lhe o velar da insônia escura
no poema dos beijos - infinito...

Certo... serias tu, donzela casta,
quem me tomasse em meio do Calvário
a cruz de angústia que o meu ser arrasta!...

Mas se tudo recusa-me o fadário,
na hora de expirar, ó Dulce, basta
morrer beijando a cruz de teu rosário!...

Luís Delfino

Quando a primeira lágrima, caindo,
pisou a face da mulher primeira,
o rosto dela assim ficou tão lindo
e Adão beijou-a de uma tal maneira,

que anjos e tronos, pelo espaço infindo,
- como uma catadupa prisioneira -
as seis asas de luz e de ouro abrindo,
rolaram numa esplêndida carreira...

Alguns, pousando à próxima montanha,
queriam ver de perto os condenados
 de dor transidos, na agonia estranha...

E, ante o fulgor dos beijos redobrados,
todos pediam punição tamanha,
ansiosos, mudos, trêmulos, pasmados... 

Virgínia Vitorino

Antes eu resistisse; antes não fosse
Tão longe a exaltação do meu desejo!
Quis um amor sincero, calmo e doce;
Tive-o tão perto e tão distante o vejo!

Passa agora por mim como um cortejo
De sombras e saudades… Apagou-se
A nota musical do último beijo…
– E aquele amor só dúvidas me trouxe!

Foste. Não voltarás. No entanto, calma,
Se penso em ti, descubro na minh´alma
Que já não te pertenço nem te quero.

Não voltas. Sem um grito, sem barulho,
Vou sufocando em lágrimas o orgulho
E embora saiba que não vens… espero!

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