Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Juliana S Valis

Um outro ano nasce após dias de parto
Em meio às dores do tempo e da esperança assídua
Como se existisse sempre um momento exato
Para encontrar constância nos rumos sem saída

Um outro ano morre após dias de luta
Em meio às dores do luto e da ilusão contida
Como se houvesse sempre lágrima a ser enxuta
Para iluminar cada sorriso que emana vida

Um outro ano é apenas novo se encontrar mudança
Nos caminhos que cada um percorre diariamente
E nas trilhas que um sonho puro quase sempre alcança

Um outro ano é apenas novo se corrigir o mundo
Em prol da paz que um tempo etéreo e sublime sente
Ao impregnar felicidade no que há de mais profundo

Pedro J. Bondaczuk

É noite de Natal… Estrelas reluzentes
salpicam o céu, este infinito luzeiro.
Na sala, sob a árvore, estão os presentes.
As luzes, piscando, iluminam o pinheiro.

Só, reflito em fatos antigos e recentes,
nos ganhos e perdas deste ano, no final,
nos mui queridos amigos e nos parentes
que estão distantes nesta noite de Natal.

Penso, sobretudo, em você, amiga ausente,
no que gostaria de receber e dar,
no seu grande carinho e generosidade,

no seu sorriso e franqueza no olhar,
pois só quero, amiga, como maior presente,
o rico penhor da sua eterna amizade!

Gilka Machado

O prazer nos embriaga, a dor nos alucina;
só tu és a verdade e és a razão, Tristeza!
— flor emotiva, rosa esplêndida e ferina,
noute da alma, fulgindo, em astros mil acesa.

Não te amedronta o mal, o bem te não fascina,
és o riso truncado e a lágrima represa;
posta entre o gozo e a dor — satânica e divina —
moves eternamente um pêndulo — a incerteza.

Etérea sedução das longas horas mortas,
horas de treva e luz; mistério do sol-posto;
mal que não sabes doer e bem que não confortas...

Trago dentro de mim, desde que me acompanhas,
um veneno de mel, um mortífero gosto,
um desgosto em que gosto alegrias estranhas.

Emílio Kemp

Vão-se os dias passando e cada dia
Que chega, traz consigo as mesmas cores
Desta perene e atroz melancolia
Que me prende num círculo de horrores!

Se desta dor que tanto me crucia,
Busco esquecer-me, procurando amores,
Neles, somente, encontro — que ironia! —
Novos motivos para novas dores!...

E assim vivendo, eu vou como um precito
Que por estradas lúgubres caminha,
Rasgando os pés em pontas de granito.

Que importa a mim que a luz do sol se ria,
Se é tão profunda esta tristeza minha
Que eu já nem sei se fui alegre um dia!

Alberto de Oliveira

O homem, no último dia, abatido em seu horto,
Sente o extremo pavor que a morte lhe revela;
Seu coração é um mar que se apruma e encapela,
No pungente estertor do peito quase morto.

Tudo o que era vaidade, agora é desconforto.
Toda a nau da ilusão se destroça e esfacela
Sob as ondas fatais da indômita procela,
Do pobre coração, que é náufrago sem porto.

Somente o que venceu nesse mundo mesquinho,
Conservando Jesus por verdade e caminho,
Rompe a treva do abismo enganoso e perverso!

Onde vais, homem vão? Cala em ti todo alarde,
Foge dessa tormenta antes que seja tarde:
Só Jesus tem nas mãos o farol do Universo.

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