Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Luís Delfino
Eu dizia-lhe um dia: - Essa brancura
De tua carne outrora resplendente
Não vem de um sangue rubro, um sangue quente,
Como pedia a tua formosura.
Que mágoa funda os seios te amargura?
Ninguém sabe que sofres realmente,
Diz-me porém o coração ardente
Que em ti se encontra o amor que se procura.
Quanto mais em ti desço, e mais te sondo,
Quase louca paixão por ti eu sinto...
Aos dois pomos de neve as mãos te pondo,
Nua, e em pé, como estátua sobre um plinto.
Loura cabeça ao colo alvo e redondo,
Murmuraste, inclinando: - Eu nunca minto.
Olavo Bilac Sonhei que me esperavas. E, sonhando, Saí ansioso por te ver: corria... E tudo, ao ver-me tão depressa andando, Soube logo o lugar para onde eu ia. E tudo me falou, tudo! Escutando Meus passos, através da ramaria, Dos despertados pássaros o bando: “Vai mais depressa! Parabéns!” dizia. Disse o luar: “Espera! Que eu te sigo: Quero também beijar as faces dela!” E disse o aroma: “Vai, que eu vou contigo!” E cheguei. E, ao chegar, disse uma estrela: “Como és feliz! como és feliz, amigo, Que de tão perto vais ouvi-la e vê-la!”
Luís Delfino
Morre: ninguém te há de querer tão fria,
Nem contigo dormir no mesmo leito;
Ninguém mais ouça, dentro do teu peito,
Bater-te o coração como batia.
Na tua alcova há de cantar o dia;
E o ninho, onde emplumou teu corpo, feito
Do que o céu tem de bom e há de harmonia,
Fique a estranho ludíbrio enfim sujeito.
Leva contigo a luz da tua aurora,
Leva a cruz branca dos teus braços, corta
Tudo que a ti me prende e vai-te embora.
Como és bela inda assim!... isso que importa?
Enquanto em torno tudo é triste e chora...
Oh! que alegria eu sinto em ver-te morta!...
José Albano
Ditoso quem foi sempre desamado
Nem nunca na alma viu pintar-se o gozo
Que lhe promete estado venturoso
Para depois deixá-lo em triste estado.
Já me de todo agora persuado
De que não pôde haver brando repouso
E do afeto mais doce e deleitoso
Se gera às vezes o maior cuidado.
Não quero boa sorte nem sonhá-la,
Pois logo passa, apenas se revela,
Com uma dor que outra nenhuma iguala.
Mas quem desconheceu benigna estrela,
Se não teve a alegria de alcançá-la,
Nunca teve o desgosto de perdê-la.
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