Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Olavo Bilac

Nunca entrarei jamais o teu recinto:
Na sedução e no fulgor que exalas,
Ficas vedada, num radiante cinto
De riquezas, de gozos e de galas.

Amo-te, cobiçando-te... E, faminto,
Adivinho o esplendor das tuas salas,
E todo o aroma dos teus parques sinto,
E ouço a música e o sonho em que te embalas.

Eternamente ao meu olhar pompeias,
E olho-te em vão, maravilhosa e bela,
Adarvada de altíssimas ameias.

E à noite, à luz dos astros, a horas mortas,
Rondo-te, e arquejo, e choro, ó cidadela!
Como um bárbaro uivando às tuas portas!

Olavo Bilac

Não me perdi numa ilusão... Perdi-me
Na existência, entre os homens. E encontrei-os,
Vivos, bem vivos! – estes monstros feios,
Cujo peso afrontoso a terra oprime.

Mas há monstros no bem, como no crime:
Outros houve, que em hinos e gorjeios
Talvez viveram e morreram, cheios
De extrema formosura e ardor sublime.

Ah! no dia da cólera tremenda,
Os monstros bons, agora fugitivos
Desta míngua de fé que nos infama,

Ressurgirão no epílogo da lenda:
Os mortos voltarão varrendo os vivos,
E os maus se afogarão na própria lama!

Pe. Antônio Tomás

Da Cruz pendente expira, e, sem demora,
De susto e horror desmaia o sol na altura,
Cobre-se o céu de um manto de negrura,
E o mundo inteiro treme e se apavora.

Trajando luto, a natureza chora,
Fende-se a terra, estala a rocha dura,
E, abandonando a paz da sepultura,
Vagueiam mortos pelo campo afora...

Além ronca o trovão sinistramente...
Fuzila o raio e, em doida tempestade,
Brame e se agita o velho mar gemente.

Tinhas, decerto, ó Cristo, a divindade,
Pois na morte de um Deus, de um Deus somente,
Pode haver tanta pompa e majestade!

Nilo Aparecida Pinto

Que mulher amarei, nesta noite pressaga?
Qual delas me abrirá os seus braços de lua,
E me dará, no amor, o seu corpo de vaga,
Fremindo de pudor, como uma estrela nua?

Qual delas me virá, sob o luar que flutua,
Derramar um perfume e um beijo em minha chaga?
Será minha, e terei uma carícia sua?
Que mulher amarei, nesta noite pressaga?

Em que mundo ela dorme? Em que estância perdida
Gozarei no seu corpo, em maciezas de alfombras,
As carícias da carne e a volúpia da vida?

Ah, não sei que mulher em seus braços me acoite...
Mas estendo-lhe as mãos e a procuro nas sombras,
Como um pássaro cego arrastado na noite...

Alberto de Oliveira

Que me quer esta lágrima?... Chorei-as
Todas... Mas tu, ó lágrima querida,
Tu só ficaste, e vais rolar sem vida,
Longe de suas mãos de finas veias!

Ela também, ó lágrima sentida!
Teve de pranto as pálpebras tão cheias,
Como de um lírio, em meio das areias,
A urna de orvalhos, de manhã perdida.

Mortos para sempre!... Lágrima, secaram
Tuas irmãs! com elas desaparece,
E apaga-te, como elas se apagaram!

Olha: à face que amei se eu te levasse
Num beijo extremo e te espalhado houvesse,
Tu gelaras... tão fria é sua face! 

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