Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Vinícius de Moraes

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

Vilma Oliveira

Todos esses meses de agosto
São dias eternos e pungentes
Com tantas lágrimas de desgosto
A compungir a alma da gente!

Entro no meu quarto, a porta fecho,
Entre quatro paredes, eis minha cela,
Desde que nasci esse desfecho...
Durmo com a dor e acordo com ela!

Ingente clamor que me saúda
Rogo de joelhos: Quem me acuda?
Enxuguem o pranto do meu rosto!

Façam findar essa agonia...
Acabem com as noites e os dias...
Nunca mais exista mês de agosto!

Cruz e Sousa

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades
Mares, estrelas, tardes, natureza

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo

Nesses silêncios solitários, graves
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?

Raul de Leoni

Depois da morte, tudo aqui subsiste,
Neste Além que sonhamos, que entrevemos,
Quando a nossa alma chora nos extremos
Dessa dor que no mundo nos assiste.

Doce consolação, porém, existe
Aos amargosos prantos que vertemos,
Do conforto celeste os bens supremos
Ao coração desalentado e triste.

Também existe aqui a austera pena
À consciência infeliz que se condena,
Por qualquer erro ou falta cometida;

E a Morte continua eliminando
A influência do mal, torvo e nefando,
Para que brilhe a Perfeição da Vida.

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