Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Alberto de Oliveira

Foram-se os deuses, foram-se, em verdade;
Mas das deusas alguma existe, alguma
Que tem teu ar, a tua majestade,
Teu porte e aspecto, que és tu mesma, em suma.

Ao ver-te com esse andar de divindade,
Como cercada de invisível bruma,
A gente à crença antiga se acostuma
E do Olimpo se lembra com saudade.

De lá trouxeste o olhar sereno e garço,
O alvo colo onde, em quedas de ouro tinto,
Rútilo rola o teu cabelo esparso...

Pisas alheia terra... Essa tristeza
Que possuis é de estátua que ora extinto
Sente o culto da forma e da beleza.

Alphonsus de Guimaraens

Cantar o que jamais fosse cantado,
Dizer as sensações que ninguém disse!
É colher uma flor que só florisse
Para o seu sonho de anjo rebelado.

O homem chora, o homem geme, o homem sorri-se:
Quando o pranto, o gemido, o seu iriado
Sorriso tomba em seio muito amado,
Julga sentir o que ninguém sentisse.

Mas não há quem um coração de todo
Virgem amasse: por momentos tantos
A luz do sol reflete-se no lodo...

Olhos mortais, espelhos dos sentidos!
Ai como ingênuos sois! Os próprios Santos,
Antes de amar a Deus, foram traídos...

Luís Guimarães Júnior

Cai a floresta, majestosa e triste,
Sob as foices do tempo; – os monumentos
Ruem do inverno aos pavorosos ventos:
Chegou a tua vez, meu Pai! caíste.

Mas como o odor que a natureza calma
Deixa no largo bosque desfolhado,
Dentro em meu peito, nu e amargurado,
Deixaste-me, ao partir, toda a tua alma!

Ah! nesta terra mortuária e crua,
Meu Pai! a vida é um fumo: esvai-se e some,
Só a memória como a luz flutua;

Poupe-me a morte que hoje te consome,
Dê-me o Senhor virtude igual à tua,
Que eu talvez seja digno do teu nome.

Luís Vaz de Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que me mata e não se vê;

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.

Olavo Bilac

Nunca entrarei jamais o teu recinto:
Na sedução e no fulgor que exalas,
Ficas vedada, num radiante cinto
De riquezas, de gozos e de galas.

Amo-te, cobiçando-te... E faminto,
Adivinho o esplendor das tuas salas,
E todo o aroma dos teus parques sinto,
E ouço a música e o sonho em que te embalas.

Eternamente ao meu olhar pompeias,
E olho-te em vão, maravilhosa e bela,
Adarvada de altíssimas ameias.

E à noite à luz dos astros, a horas mortas,
Rondo-te, e arquejo, e choro, ó cidadela!
Como um bárbaro uivando às tuas portas!

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