Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Américo Palha

Envolto no aranhol das minhas dores,
Abro, convulso, o livro dos meus dias:
- Cada folha me traz fundos travores
E o veneno letal das nostalgias.

Algemado, suporto os estertores
De profundas e lentas agonias;
- Soluços, funerais dos meus amores
E o féretro de glórias fugidias.

Se busco um lenitivo ao meu penar,
Ouço o eco de uma voz que grita: Não!
Viverás e sofrendo hás de chorar!

Minha alma, compungida, há de sentir
- Pesadelos das horas que se vão,
Incertezas das horas que hão de vir... 

Juvenal Antunes

Falam de ti, de mim, de nós... Quem há de
Tentar fechar as bocas viperinas?
Cada dia, mais cresce a intensidade
Do meu desprezo às almas pequeninas.

És a maior de todas as heroínas,
Com esse desdém e essa serenidade...
Que eu beije sempre as tuas mãos divinas,
Minha dor! Meu prazer! Minha saudade!

Façamos deste amor um relicário,
A pirâmide, o túmulo, o sacrário,
Onde a nossa paixão seja guardada!

Vivamos, Laura, assim por toda a vida!
E, embora nunca sejas a Possuída,
Para mim serás sempre a Desejada!

Olavo Bilac

Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.

E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;

E vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...

Alberto de Oliveira

Quando ela entrou, com um gesto de rainha,
Pálida e bela, altiva e desdenhosa,
Quedou-se em torno a sala rumorosa,
Tão nobre aspecto a divindade tinha.

Quem era essa mulher esplendorosa
Que a luz do raio e a luz do sol continha?
Falia, interroga a multidão ansiosa...
Ninguém soube jamais de onde ela vinha.

E inda depois que a aparição divina
Sumiu-se, no clarão que atrás deixara
Queimam-se as almas em que amor domina;

E em vago sonho inquieto e prolongado
Reveem todos a forma aérea e clara
E a imensa luz daquele vulto amado.

Virgínia Vitorino

Não venhas ver-me não. De que servia?
Nem eu tenho coragem para tanto.
Gostava muito, sim, mas todo o encanto
Da tua grande ausência acabaria.

É tornar-te a perder. Num certo dia,
Tu partes novamente, e todo o pranto,
Ou pouco ou muito - não importa quanto -
Nunca o compensa uma hora de alegria.

Mas, se eu não posso ter outro desejo!
Se eu, não te vendo a ti, nada mais vejo!
Como é que, sendo assim, não te hei-de ver?

Responde-te a minha alma comovida:
- Vale mais ter um mal por toda a vida
Do que alcançar um bem para o perder.

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