Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Olavo Bilac

“Sofro… Vejo envasado em desespero e lama
Todo o antigo fulgor, que tive na alma boa;
Abandona-me a glória; a ambição me atraiçoa;
Que fazer, para ser como os felizes?” - Ama!

“Amei… Mas tive a cruz, os cravos, a coroa
De espinhos, e o desdém que humilha, e o dó que infama;
Calcinou-me a irrisão na destruidora chama;
Padeço! Que fazer, para ser bom?” - Perdoa!

“Perdoei… Mas outra vez, sobre o perdão e a prece,
Tive o opróbrio; e outra vez, sobre a piedade, a injúria;
Desvairo! Que fazer, para o consolo?” - Esquece!

“Mas lembro… Em sangue e fel, o coração me escorre;
Ranjo os dentes, remordo os punhos, rujo em fúria…
Odeio! Que fazer, para a vingança?” - Morre!

Antero de Quental

Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andamos! Considera
Agora, desta altura, fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos…

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E a noite, onde foi luz a Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!

Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,

Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se isto é vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.

Augusto dos Anjos

E todo o dia eu vou como um perdido
De dor, por entre a dolorosa estrada,
Pedir a Dulce, a minha bem amada,
A esmola dum carinho apetecido.

E ela fita-me, o olhar enlanguescido,
E eu balbucio trêmula balada:
- Senhora, dai-me uma esmola - e estertorada
A minha voz soluça num gemido.

Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo,
Estendo à Dulce a mão, a fé perdida,
E dos lábios de Dulce cai um beijo.

Depois, como este beijo me consola!
Bendita seja a Dulce! A minha vida
Estava unicamente nessa esmola.

C. S. Oliveira

Sabem os Céus, enquanto eu vago, errante,
A dúvida que em mim se faz presente,
Quando a lembrança dela vem-me à mente,
E em pensamentos vejo o seu semblante.

Todo o seu ser pra mim é fascinante.
Eu a venero tanto, ardentemente…
Mas não ouso dizê-lo abertamente,
E a dúvida é cruel - dor lancinante…

Eu temo - ah, como temo, num momento,
Dizê-la o quanto sinto - pois é vero,
Perdê-la então - pois sei, não a mereço!

Consolo eu clamo a Deus, a tal tormento
- Andar pensando em quem tanto venero,
Sem ser merecedor de seu apreço!

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