Bernardino Lopes
Recordo: um largo verde e uma igrejinha,
Um sino, um rio, um pontilhão e um carro
De três juntas bovinas, que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro.
Havia a escola, que era azul e tinha
Um mestre mau, de assustador pigarro
(Meu Deus! que é isto, que emoção a minha
Quando estas coisas tão singelas narro?)...
"Seu" Alexandre, um bom velhinho rico,
Que hospedara a Princesa; o tico-tico
Que me acordava de manhã, e a serra...
Com o seu nome de amor Boa-Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança
Da minha pobre e pequenina terra!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Alphonsus de Guimaraens
Vagueiam suavemente os teus olhares
pelo amplo céu todo franjado em linho:
comprazem-te as visões crepusculares…
Tu és uma ave que perdeu o ninho.
Em que nichos dourados, em que altares
repousas, anjo errante, de mansinho?
E penso, ao ver-te envolta em véus de luares,
que vês no azul o teu caixão de pinho.
És a essência de tudo quanto desce
do solar das celestes maravilhas…
- Harpa dos crentes, cítola da prece.
Lua eterna que não tivesse fases,
cintilas branca, imaculada brilhas,
e poeiras de astros nas sandálias trazes…
Alberto de Oliveira
“Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trêmulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.
Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende...
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.”
E, fechando-se mais, zelosa e firme,
Respondia a janela: “Tem-te, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abrir-me!
E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado,
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!”
Bernardino Lopes
Lembrei-me, há dias, de ir viver na roça,
Entre sombras de chácara verdoenga,
Numa casinha, à imitação flamenga,
Ou mesmo dentro de uma pobre choça,
Sobre a montanha; um sítio de araponga,
Onde, se tu me acompanhar quiseres,
Acharás o preciso aos teus misteres,
Prevendo o caso de uma estada longa.
Mas que da nossa habitação tranquila
Aviste-se o caminho, a igreja, a vila,
O rio, a ponte, as terras de lavoura...
Pode ser que a mudança te aproveite
E eu veja ao colo, a te sugar o leite,
Um róseo anjinho de cabeça loura!