Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Luís Guimarães Júnior
Cresce a invernosa noite, um frio intenso
Morde-me as carnes: – lívido, gelado,
No leito me ergo... e escuto o desolado
Uivo do Inverno, atroz, convulso, imenso...
Tento dormir. Em vão! Escuto e penso.
Penso na eterna Ausente... Ah! se a meu lado
Ela estivesse! um beijo perfumado!
Um só! me fora ardente e ideal incenso...
Abre-se então de leve a minha porta:
É Ela! Entrou. Na palidez da morta
Uma aurora de beijos irradia:
Caminha... chega e diz-me num segredo:
“Une teu rosto ao meu, não tenhas medo:
Venho aquecer-te: – a noite está tão fria!”
Alceu Wamosy
Não me tentes assim. Fecha esses braços.
Nas dobras da mantilha oculta as pomas.
Volve esses olhos mágicos e lassos,
E essa boca sensual, cheia de aromas.
Quero fugir do mal dos teus abraços,
Das trágicas cadeias das tuas comas,
E me fazes rojar, trás os teus passos,
Mal o teu vulto tentador assomas!
O meu ser te repele e te procura,
Mulher fatal, diabólica e divina,
Geradora de amor e de loucura!
Beija-me mais! Afoga-me o desejo!
Pois, se sei que teu beijo me assassina,
Sei que sucumbo à falta desse beijo!...
Augusto dos Anjos
E ele morreu. Ele que foi um forte
Que nunca se quebrou pelo Desgosto
Morreu... mas não deixou na ara do rosto
Um só vestígio que acusasse a Morte!
O anatomista que investiga a sorte
Das vidas que se abismam no Sol-posto
Ficaria admirado do seu rosto
Vendo-o tão belo, tão sereno e forte!
Quando meu Pai deixou o lar amigo
Um sabiá da casa muito antigo,
Que há muito tempo não cantava lá,
Diluiu o silêncio em litanias...
E hoje, poetas, já faz sete dias
Que eu ouço o canto desse sabiá!