Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Carlos Arnaud 

Ergue-se altivo, na luz, um andarilho.
Seu vulto o segue, calmo e companheiro,
Dançando ao vento, qual espectro ligeiro,
Preso à sua essência de brando partilho.

Se o sol declina, ele torna-se exílio,
Estendido escuro, mais forte e inteiro,
O homem avança, mas seu fiel mensageiro
Lhe sussurra mistérios num terno idílio.

Na aurora brilha, discreto e discreto,
Na noite esconde-se, negro e completo,
Mas nunca o deixa, jamais se desfaz.

Assim caminham os dois neste enredo:
O homem, matéria. A sombra, segredo.
Ambos fundidos nesta dúvida mordaz.

Carlos Arnaud

Corpo em flor exalando a madrugada,
Em cada curva, um verso se insinua.
A pele, em luz, se mostra desfolhada,
E a boca é chama que jamais recua.

Teus olhos têm a cor nua da alvorada,
E em teu olhar, a calma se perpetua.
No gesto teu, uma arte é desenhada,
E o tempo, em ti, se dobra e continua.

Primavera dos meus sonhos ardentes,
Tu és perfume, brisa mansa e tentação,
Que em jardim floresce entre poentes.

E mesmo quando a noite diz: “não são”,
Teus beijos vivem - cálidos, latentes -
Na impassibilidade viva do meu coração.

Carlos Arnaud

Na sala quieta, em tarde sem alento,  
Desliza um véu de névoa invisível,  
Um frio estranho, quase imperceptível,  
Caminha suave, feito um pensamento.

Não há razão, figura ou argumento,  
Só o pesar de um tempo imprevisível,  
Um eco mudo e leve, indiscernível,  
Que gela o riso e tolda o fundamento.

Seria um sonho que ficou de lado?  
Ou mesmo o vulto de algo nunca dito,  
Que insiste em vir, embora recusado?

É como o olhar no abismo infinito,  
Ver-se por dentro: imenso, desolado
E ouvir o mundo em um tom inaudito.

Carlos Arnaud

Seu passo é firme, e a graça não disfarça
O porte de uma Deusa em sua doce teia,
A fronte altiva, a voz que nunca anseia,
E os olhos - dois cristais em pura taça.

Nas tranças negras, a luz se faz escassa,
Tecidas como versos de grande epopeia,
São ondas que o silêncio em si enleia,
Cativo ao sopro que o mistério passa.

Não canta o vento em sua etérea dança,
Como o perfume que por ela sempre exala;
Nem mesmo a aurora a iguala em esperança.

Que os deuses, Angelina, calem a prosa rala.
Não há idioma que defina sua bela trança,
Ou um só olhar que nos seus fios se embala.

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