Carlos Arnaud
Na sala quieta, em tarde sem alento,
Desliza um véu de névoa invisível,
Um frio estranho, quase imperceptível,
Caminha suave, feito um pensamento.
Não há razão, figura ou argumento,
Só o pesar de um tempo imprevisível,
Um eco mudo e leve, indiscernível,
Que gela o riso e tolda o fundamento.
Seria um sonho que ficou de lado?
Ou mesmo o vulto de algo nunca dito,
Que insiste em vir, embora recusado?
É como o olhar no abismo infinito,
Ver-se por dentro: imenso, desolado
E ouvir o mundo em um tom inaudito.