Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Carlos Arnaud

Na tez do prado, exímia flor viceja,
Seu cálix de ouro ao sol resplandece,
E a brisa mansa, cândida, esmorece
Ante o perfume que em volúpia alveja.

E logo ao lado, austero e vil, rasteja
O espinho agudo, em nua mudez cresce,
Sem cor, sem graça, com sua ira fenece
No chão estéril que em desdém o beija.

Oh, contraste! Que ironia se ensina
Na arte estranha da agreste campina,
Onde a beleza e a dor se fazem laço!

Pois da flor nasce uma grandeza divina,
E do espinho o pranto da fatal ruína,
Tecendo vida em dúbio e ingênuo passo.

Carlos Arnaud

Nos lábios dela, a rima é mel furtivo,
Mas se beijá-la, provo o amargo pranto.
Seu olhar de íris clara e luz de espanto
Fere-me a alma, como aço frio e esquivo.

Doura-lhe o sol a tez, num tom lascivo,
Mas sua voz ressoa como um canto brando,
Pois há em seu peito o ardor pulsando
Que ao meu clamor responde mui reativo.

Minha Bela Angelina, sou mero viajante,
Perdido em órbita, sem brilho e fomento,
A vagar no vácuo, errante e distante.

Se o amor foi pena, traçou meu destino:
Serei eu poeta, e em versos o lamento
Por não ter sido o seu querer libertino.

Carlos Arnaud

Na cidade altiva, onde a noite avança,
o luar recobre a praça e a nua estrada,
brilhando no Prata, pura luz que dança,
tecendo as sombras numa renda alada.

Um sereno espelho nas águas do rio,
reflete o céu num sonho imaculado,
de súbito envolve o campo em desvario,
seu véu de luz em pranto derramado.

E sob a brisa, toda terra se enfeitiça,
nas folhas que murmuram seus enredos,
A lua desliza em sua áurea preguiça,

bordando vales com seus brancos dedos.
Assim, São Domingos guarda em sua liça
o encanto oculto dos astros quedos.

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