Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

mai
31

Raimundo Correia

Homem, da vida as sombras inclementes
Interrogas em vão: – Que céus habita
Deus? Onde essa região de luz bendita,
Paraíso dos justos e dos crentes?…

Em vão tateiam tuas mãos trementes
As entranhas da noite erma, infinita,
Onde a dúvida atroz blasfema e grita,
E onde há só queixas e ranger de dentes…

A essa abóbada escura, em vão elevas
Os braços para o Deus sonhado, e lutas
Por abarcá-lo; é tudo em torno trevas…

Somente o vácuo estreitas em teus braços;
E apenas, pávido, um ruído escutas,
Que é o ruído dos teus próprios passos!…

mai
24

Antero de Quental

Chovam lírios e rosas no teu colo!
Chovam hinos de glória na tua alma!
Hinos de glória e adoração e calma,
Meu amor, minha vida e meu consolo!

Dê-te estrelas o céu, flores o solo,
Cantos e aroma, o ar e sombra, a palma.
E quando surge a lua e o mar se acalma,
Sonhos sem fim e eu preguiçoso rolo!

E nem sequer te lembres de que eu choro...
Esquece até, esquece, que te adoro...
E ao passares por mim, sem que me olhes,

Possam das minhas lágrimas cruéis
Nascer sob os teus pés flores fiéis,
Que pises distraída ou rindo esfolhes!

mai
17

Florbela Espanca

Gosto de ti, ó amiga, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo teu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O teu corpo matar a fome das rosas!

mai
10

Carlos Arnaud

Ó Mãe, esteio eterno do meu existir,
Altar sagrado num templo de bondade,
Teus braços, um porto na tempestade,
E tuas palavras, um caminho a seguir.

No céu repousas como uma santidade,
Com bênçãos de paz em chão sagrado,
Feliz é Deus que a tens ao teu lado,
Guiando passos da minha fragilidade.

Em teu amor, Mãe, encontro o senso,
A vida em teus braços fez-me intenso,
Como luz divina de um mundo melhor.

Sublime é tua força em teu ascenso,
A renúncia que oculta um céu imenso,
Onde estrelas brilham ao teu redor.

mai
03

Carlos Arnaud

Minha Bela Angelina, minha Angelouca, 
Tens a beleza que não cabe num poema.
Querias se pudesse, beijar-lhe a boca, 
Dos problemas o mais sublime problema.

Nesta vida, és meu anjo, a minha sorte,
Em tudo o mais insigne e doce dilema. 
Teu amor, no meu destino é o meu norte,
E uma luz que na escuridão me algema.

Seja especialmente minha, meiga menina. 
Sendo uma brisa suave, de pura alfazema,
Dentre todas mulheres és a mais feminina.

Que o tempo te preserve sempre divina.
No jardim da vida como uma flor suprema, 
Tu brotas no meu coração, Bela Angelina.

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