Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Raimundo Correia

Homem, da vida as sombras inclementes
Interrogas em vão: – Que céus habita
Deus? Onde essa região de luz bendita,
Paraíso dos justos e dos crentes?…

Em vão tateiam tuas mãos trementes
As entranhas da noite erma, infinita,
Onde a dúvida atroz blasfema e grita,
E onde há só queixas e ranger de dentes…

A essa abóbada escura, em vão elevas
Os braços para o Deus sonhado, e lutas
Por abarcá-lo; é tudo em torno trevas…

Somente o vácuo estreitas em teus braços;
E apenas, pávido, um ruído escutas,
Que é o ruído dos teus próprios passos!…

Antero de Quental

Chovam lírios e rosas no teu colo!
Chovam hinos de glória na tua alma!
Hinos de glória e adoração e calma,
Meu amor, minha vida e meu consolo!

Dê-te estrelas o céu, flores o solo,
Cantos e aroma, o ar e sombra, a palma.
E quando surge a lua e o mar se acalma,
Sonhos sem fim e eu preguiçoso rolo!

E nem sequer te lembres de que eu choro...
Esquece até, esquece, que te adoro...
E ao passares por mim, sem que me olhes,

Possam das minhas lágrimas cruéis
Nascer sob os teus pés flores fiéis,
Que pises distraída ou rindo esfolhes!

Florbela Espanca

Gosto de ti, ó amiga, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo teu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O teu corpo matar a fome das rosas!

Carlos Arnaud

Ó Mãe, esteio eterno do meu existir,
Altar sagrado num templo de bondade,
Teus braços, um porto na tempestade,
E tuas palavras, um caminho a seguir.

No céu repousas como uma santidade,
Com bênçãos de paz em chão sagrado,
Feliz é Deus que a tens ao teu lado,
Guiando passos da minha fragilidade.

Em teu amor, Mãe, encontro o senso,
A vida em teus braços fez-me intenso,
Como luz divina de um mundo melhor.

Sublime é tua força em teu ascenso,
A renúncia que oculta um céu imenso,
Onde estrelas brilham ao teu redor.

Carlos Arnaud

Minha Bela Angelina, minha Angelouca, 
Tens a beleza que não cabe num poema.
Querias se pudesse, beijar-lhe a boca, 
Dos problemas o mais sublime problema.

Nesta vida, és meu anjo, a minha sorte,
Em tudo o mais insigne e doce dilema. 
Teu amor, no meu destino é o meu norte,
E uma luz que na escuridão me algema.

Seja especialmente minha, meiga menina. 
Sendo uma brisa suave, de pura alfazema,
Dentre todas mulheres és a mais feminina.

Que o tempo te preserve sempre divina.
No jardim da vida como uma flor suprema, 
Tu brotas no meu coração, Bela Angelina.

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