Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Juvenal Antunes
 
Para os beijos de outrora, não me chamas,
Nem teus braços me chamam como outrora...
Chamo-te em vão! Não vens! Já não me amas...
Amas a outro, talvez que a alma te implora!

Que vale um poeta que se queixa e que chora,
Por quem nem uma lágrima derramas?
E quem se desengana de hora em hora,
Sem decifrar, indecifráveis tramas?

Laura, hoje eu sou um mísero exilado
Que, para alheias terras exportado,
Há de morrer em breve de saudade!

Mas, se a vida no espaço continua,
De lá, do quente sol ou da fria lua,
Eu te amarei com a mesma intensidade!

Augusta Campos

Tenho saudade de umas mãos amigas,
mãos de silêncios doces e eloquentes,
mãos que teciam versos e cantigas
na luz dourada e mística dos poentes.

Resta-me, agora, o peso das fadigas.
E, agora, em minhas mãos sós e frementes,
em vez da ardência das paixões antigas,
sinto horas frias de emoções ausentes.

Mãos amigas, amantes, namoradas,
mãos que embalaram ternas madrugadas
e acalentaram formas e segredos.

Em minhas mãos morreram primaveras.
E eu tenho, agora, inverno e vãs esperas
e saudades chorando nos meus dedos.

Agripino Grieco

Naquele quarto estreito e abandonado,
onde passo, estirado numa rede,
horas de tédio, enquanto o sol despede
as setas de ouro sobre o campo ao lado,

esquecido num canto, e, da parede
junto, entre flores, vasos e um bordado,
há um velho copo de cristal lavrado,
em que, às vezes, aplaco o ardor da sede.

Conta-se que esse copo pertencera,
outrora, a uma esquisita e romanesca
jovem, que nele, muita vez bebera.

E ainda hoje a extravagar cabeça louca!
se ao lábio o levo, sinto na água fresca
o perfume e o sabor daquela boca... 

Alceu Wamosy

Pulcras liriais, bizarramente claras,
Carnes divinas, virginais e puras,
Na ostentação de correções preclaras
E de preclaras pompas e brancuras...

Carnes que sois as sacrossantas aras,
De vagas e de ignotas formosuras...
Ó carnes esquisitas carnes, carnes raras,
De esquisitas e raras contexturas!...

Carnes dadas, sem mancha, em holocausto
Ao amor, e do amor florindo ao fausto,
Virgens da tentação, salvas do vício!

Carnes extraordinárias e perfeitas,
Eleitas para um alto gozo — eleitas
Para o prazer e para o sacrifício!... 

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