Augusto dos Anjos
Como uma ave, cindindo os céus risonhos,
Meiga, tu vinhas a cindir os ares,
E, qual hóstia, caindo dos altares,
Foste caindo na ara dos meus sonhos.
E eu vi os seios teus virem inconhos
- Esses teus seios que os cerúleos lares
Branquejaram de eternos nenúfares,
Para nunca tocarem negros sonhos!
Caíste enfim no meu sacrário ardente,
E eu quis beijar-te o lábio redolente,
Quiseste-me beijar a ara do peito.
E beijei-te, mas eis que neste enleio,
Tocando na ara negra o níveo seio,
Caíste morta ao celestial preceito.
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