Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

jan
25

Luís de Góngora

O brilho de metal do teu cabelo
um dia se consome na ferrugem
e os olhos cristalinos, que hoje fulgem,
apagam-se em perpétuo pesadelo.

Tanto viço, não há como contê-lo:
os seios murcham, tudo se resume
numa disforme massa, feito estrume,
no lodo da matéria em desmazelo.

Aproveita o feitio tão formoso
e, juntos, desfrutemos cada gozo
que os deuses não nos neguem nem adiem.

Antes que esse teu corpo, enfim inerme,
converta-se em repasto para o verme,
celebremos Horácio - Carpe diem!

jan
18

Araújo Figueredo

Dessa tarde recordo a profunda tristeza...
E porque não? Recordo a hora da despedida.
Eu te deixara só, meu sonho de beleza,
Ó meu lírio da serra, ó flor estremecida!

Nessa hora amargurada, a própria natureza
Parecia uma noiva, entre goivos, vestida
Para a morte. Do céu na límpida turquesa
Uma estrela surgiu, a resplender de vida!

Entre abraços, teu peito ao meu peito apertaste.
E eu para o mar parti. Mas de onde então ficaste,
Um rastilho de luz branca me acompanhou...

Seria o teu amor assim transfigurado?
Ou a saudade augural do teu peito magoado?
E onde o meu coração tristíssimo ficou?

jan
11

Carlos Arnaud

Nos braços da manhã, surge Angelina, 
Com olhar sereno, um andar encantado, 
No sonho, me envolve, bela e divina, 
Num mundo mágico, suavemente airado.

Cabelos pretos como a noite descente, 
Sorriso que ilumina, ternura infinita, 
Presença que encanta de forma latente, 
Cada gesto dela, uma emoção inaudita.

Em jardins floridos juntos amávamos, 
Risos, abraços e beijos, trocávamos. 
Acordo e percebo quão doce é sonhar.

Vivo cada dia a recordar seus gestos, 
No silêncio da noite, sonhos requestos, 
E vejo ao amanhecer, a luz do seu olhar. 

jan
04

Alceu Wamosy

Ó fantasma sinistro da desgraça!
Visionário, sonâmbulo, maldito,
Que arrastas pelas sombras do infinito,
A agonia titânica da tua raça!

O teu vulto gigante, quando passa,
Traz no exterior ciclópico do grito,
Toda a fúria sombria do rio Cocyto,
Toda a insânia que as almas despedaça!

Que destino fatal teus passos leva?
Que procuras, vagabundo, alma de treva,
Pela noite dos séculos, a esmo?

De onde vens? Quem tu és? Importa pouco!
Talvez sejas Ahasverus, errante e louco,
Perdido na inconsciência de si mesmo ...

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