Antônio Crespo
Fora de portas vive. É silenciosa
A modesta vivenda em que ela habita,
Ali correu-lhe a vida bonançosa,
Ali golpeou-lhe os seios a desdita.
Raro de quando em quando uma visita
Novas lhe traz da vida tumultuosa,
E ela sorrindo a furto, descuidosa,
No azul os olhos em silêncio fita.
Sozinha e triste a pálida viúva,
Por essas noites de invernia e chuva,
A um honesto e feminil labor se entrega.
E, alta noite, levanta, em dor sepulta,
O olhar, que fixa, e demorado prega
No eterno Ausente que num quadro avulta.
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