Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

mar
29

Manuel Bandeira

Meu tudo, minha amada e minha amiga,
Eis, compendiada toda num soneto,
A minha profissão seria de fé e afeto,
Que à confissão, aos teus pés, me obriga.

O que na alma guardei de muito antiga
Experiência foi pena e ansiar inquieto.
Gosto pouco do amor ideal objeto
Só, e do amor só carnal não gosto amiga.

O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria
De onde? Dos céus?… Da distância?…

Não te prometo os estos, a alegria,
A assunção… Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.

mar
22

Cruz e Souza

Grande amor, amor, grande mistério
Que as nossas almas trêmulas enlaça...
Céu que nos beija, céu que nos abraça
Num abismo de luz profundo e sério.

Eterno espasmo de um desejo etéreo
E bálsamo dos bálsamos da graça,
Chama secreta que nas almas passa
E deixa nelas um clarão sidéreo.

Cântico de anjos e de arcanjos vagos
Junto às águas sonâmbulas de lagos,
Sob as claras estrelas desprendido...

Selo perpétuo, puro e peregrino
Que prende as almas num igual destino,
Num beijo fecundado num gemido.  

mar
15

Antero de Quental

Para tristezas, para dor nasceste. 
Podia a sorte pôr-te o berço estreito 
Em algum palácio e ao pé de régio leito, 
Em vez deste areal onde cresceste: 

Podia abrir-te as flores - com que veste 
As ricas e as felizes - nesse peito: 
Fazer-te... o que a Fortuna há sempre feito... 
Terias sempre a sorte que tiveste! 

Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos, 
Que não são deste mundo e onde eu leio 
Uns mistérios tão tristes e infinitos, 

Tua voz rara e esse ar vago e esquecido, 
Tudo me diz a mim, e assim o creio, 
Que para isto só tinhas nascido!

mar
08

Carlos Arnaud

Branca morada onde Bela Angelina pousa, 
De arrimo, claros muros vão se elevando. 
Nos vãos do templo, a paz em si repousa, 
Sutil silêncio sempre ao vento entoando.

Esculpidos em mármore carrara, tronos. 
Vê-se cúpulas e pisos de alvura e de alvor. 
Nas tramas das colunas, erguem-se panos, 
Germinam gerânios e rosas no exterior.

No átrio eterno, quando a luz se entrega, 
Ouve-se lindas canções em dias imortais, 
Enquanto ao seu tempo o destino navega.

E a Bela Angelina, diante os amplos vitrais
Do Novo Lar que escolheu, a vida abnega, 
Construindo seus sonhos em tempos reais...

mar
01

Carlos Arnaud

Na busca incessante por serenidade, 
Enquanto o carnaval aqui se estende, 
Procuro um refúgio de tranquilidade, 
Longe da folia que o sossego ofende.

As alegorias que aos meus olhos ferem, 
O funk ignóbil, tanto irrita e maltrata, 
São vultos e sons qual jamais preferem, 
Meu ser calmo, e a santa paz do Prata.

Ah, mas que sujeitinho chato de veneta,
Que não acha graça nessa festa momesca,
Onde as drogas fluem de forma dantesca?

Carnaval é uma obra nefasta do capeta.
E é por trás das máscaras e fantasias
Que se escondem as vezes vidas vazias.

Clicky