Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Olavo Bilac

Depois de tantos anos, frente a frente,
Um encontro... O fantasma do meu sonho!
E, de cabelos brancos, mudamente,
Quedamos frios, num olhar tristonho.

Velhos!... Mas, quando, ansioso, de repente,
Nas sua mãos as minhas palmas ponho,
Ressurge a nossa primavera ardente,
Na terra em bênçãos, sob um sol risonho:

Felizes, num prestígio, estremecemos;
Deliramos, na luz que nos invade
Dos redivivos êxtases supremos;

E fulgimos, volvendo à mocidade,
Aureolados dos beijos que tivemos,
No divino milagre da saudade. 

Nilo Aparecida Pinto

Grande é a palavra Companheira!... Quanta
Ternura, quanta, ela exprimir não ousa!
Ao murmura-la eu sinto qualquer cousa
Que me faz crer que essa palavra é Santa!

Repito-as: É a luz que enleva, o som que encanta!
Mais do que Amada, Amante, Irmã, Esposa,
Parece que ao dizê-la, ela me pousa
A música dos anjos, na garganta!...

Por isso mesmo é que, na minha estrada,
Eu vos peço, Senhor, desta maneira:
- Que Aquela que couber-me, na jornada,

Para os acasos de uma vida inteira
Seja - mais do que Esposa, Irmã e Amada,
A que eu possa chamar de Companheira!

Branca de Colaço

Naquela tarde em que nos encontramos
para o último adeus - nas garras frias
do "desgosto sem fim" que sempre achamos
qualquer separação de poucos dias...

Tarde de amor em que nos apartamos.
presas das mais acerbas nostalgias,
talvez porque os protestos que trocamos
valessem mil celestes alegrias,

houve um momento - foi um sonho de Arte!
em que um raio de sol veio beijar-te,
com tanto ardor, em rutilâncias tais,

que eu fiquei muda, a olhar, num gozo infindo,
o beijo que te dava o sol tão lindo...
Mas o teu rosto alumiava mais...

Gonçalves Crespo

Dá para a cerca a estreita e humilde cela
dessa que os seus abandonou, trocando
o calor da família ameno e brando
pelo claustro que o sangue esfria e gela.

Nos florões manuelinos da janela
papeiam aves o seu ninho armando;
vêem-se ao longe os trigos ondulando...
Maio sorri na pradaria bela.

Zumbe o inseto na flor do rosmaninho:
nas giestas pousa a abelha ébria de gozo:
zunem besouros e palpita o ninho.

E a freira cisma e cora, ao ver, ansioso,
do seu catre virgíneo sobre o linho
um par de borboletas, amoroso.

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