Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Guilherme de Almeida

Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo… E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…

Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!

Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!

Carlos Arnaud

No copo escuro, a dor se faz chorume,  
Licor de sombras, névoa que instiga,  
A alma se curva ao trago que resume  
O pranto calado de uma mágoa antiga.

Sinais de angústia brilham no absinto,  
Velha esperança que se desfez no ar,  
E o peito em chamas, já não vê distinto  
Se é sonho ou ruína a lhe acompanhar.

O álcool murmura em doses repetidas,  
Versos de espectros, vozes dissolvidas,  
Enquanto a vida, em silêncio lhe sorrir.

E o mundo gira em espiral de espanto,  
Num rito lento, febril e tão quebranto,  
Que até o tempo hesita em prosseguir.

Alceu Walmosy

Ó calvário do Verso! Ó Gólgota da Rima!
Como eu já trago as mãos e os tristes pés sangrentos,
De te escalar, assim, nesta ânsia que me anima,
Neste ardor que me impele aos grandes sofrimentos...

Esta mágoa, esta dor, nada existe que exprima!
Sinto curvar-me o joelho a todos os momentos!
E quanto falta, Deus, para chegar lá em cima,
Onde o pranto termina e cessam os tormentos...

Mas é preciso! Sim! É preciso que eu carpa,
Que eu soluce, que eu gema e que ensanguente a escarpa,
Para esse fim chegar, onde meus olhos ponho!

Hei de ascender, subir, levando sobre os ombros,
Entre pragas, blasfêmias, gemidos e assombros,
A eterna Cruz pesada e negra do meu Sonho! 

Carlos Arnaud

Olhos de âmbar, misteriosos, serenos,
Que a luz filtram em tom de claridade.
São como espelhos vítreos, tão amenos,
Mas guardam fundos de imensurabilidade.
                                       
Brilham sutis, em traços tão pequenos,
Que a forma vence a própria intensidade.
Não há excessos, nem arroubos plenos,
Só a medida correta da pura verdade.

Não são da terra, são de um céu velado,
Onde o silêncio canta em tom profundo,
E o tempo para, e angustia maravilhado.

Olhos que fazem do quase invisível mundo,
Um templo vivo, um sonho a ser louvado,
Na luz castanha clara que lhe é fecundo.

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