Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Pe. Antônio Tomás

Ao sopro do terral abrindo a vela,
Na esteira azul das águas arrastada,
Segue veloz a intrépida jangada
Entre os uivos do mar que se encapela.

Prudente, o jangadeiro se acautela
Contra os mil acidentes da jornada;
Fazem-lhe, entanto, guerra encarniçada
O vento, a chuva, os raios, a procela.

Súbito, um raio o prostra e, furioso,
Da jangada o despeja na água escura;
E, em brancos véus de espuma, o desditoso.

Envolve e traga a onda intumescida,
Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura
O mesmo mar que o pão lhe dera em vida. 

Alphonsus de Guimaraens

Vestido de ouro o Sol, bom padre, canta a missa
Da luz no altar do céu. Véus de celestes damas,
As nuvens voam: cantam pássaros: e viça
Mais do que nunca o olhar de Flora pelas ramas.

Entra o Espectro. Com voz soluçante e submissa
Murmuro-lhe: Por que, se és luz, se já não amas,
Atormentar-me assim? Não haverá justiça
Final no inferno, fogo eterno, eternas chamas?

Para que perseguir-me. Anjo tristonho? Espera.
Ou antes de noite vem, quando o remorso chora,
E o luto os olhos fecha à alma da primavera.

Bem te deves lembrar: quando tu me esqueceste,
Brilhava o mesmo sol no mesmo céu de agora...
Bem te deves lembrar: foi um dia como este.

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