Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Alberto de Oliveira

Parado o engenho, extintas as senzalas,
Sem mais senhor, existe inda a fazenda,
A envidraçada casa de vivenda
Entregue ao tempo com as desertas salas.

Se ali penetras, vês em cada fenda
Verdear o musgo e ouves, se acaso falas,
Soturnos ecos e o roçar das alas
De atros morcegos em revoada horrenda.

Amam o luar, entretanto, essas ruínas.
Uma noite, horas mortas, de passagem
Eu a varanda olhava, quando vejo

À janela da frente, entre cortinas
De prata e luz, chegar saudosa imagem
E, unindo os dedos, atirar-me um beijo...

Carlos Arnaud

Eis, qual mármore puro e alabastrina,
Tua figura esculpida pela arte,
Que do tempo resiste à fria parte,
E brilha eterna, Bela Angelina.

Em teus cabelos, negro que fascina,
A luz do sol em fios se reparte,
E nos teus olhos, mares a estandarte,
Onde a beleza encontra a sua sina.

Tua face, em linhas firmes, desenhada
Por mãos divinas, obra consagrada,
Revela o culto à forma, ao ideal.

És na pureza a deusa idolatrada,
Imagem viva, sem igual, encantada,
Bela Angelina, uma mulher monumental.

Alphonsus de Guimaraens

Sempre vivi com a morte dentro da alma,
Sempre tacteei nas trevas de um jazigo.
A sombra que me envolve é eterna e calma,
E sigo sem saber quem vai comigo.

O fantasma que o coração me ensalma
Não me ouve mais as orações que digo.
Não existe no solo uma só palma
Pela alameda olímpica que sigo...

Vós que ao meu lado viestes, visionários
Da esperança! ficastes no caminho,
Envolvidos nas dobras dos sudários...

Que seria de mim, se eu não tivesse
O calor subalar do teu carinho,
Ó minha ânsia, ó meu sonho, ó minha prece!

Corrêa de Araujo

De certo dormes, a tão altas horas,
Horas de espectros pela noite escura;
Lá na vila natal, onde tu moras,
Dormes e sonhas, bela criatura!

Sonhos, tangendo as cítaras sonoras,
Para os céus arrebatam-te a alma pura;
Dormes e eu velo, dormes e ignoras
A saudade infernal que me tortura.

Sonhas talvez com querubins alados,
E eu cismo aqui, entregue ao devaneio
Dos sonhadores e dos namorados...

Dormes, envolta em leves claridades,
E eu velo, e o coração me sangra, cheio
Da mais cruel de todas as saudades.

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