Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Francisco Mangabeira

Vejo-a por tudo e sempre... Do telhado
A espiar-lhe, entrando com os clarões do dia,
Ou furando a vidraça de lado a lado,
Sempre junta com o sol que além radia.

Por isto eu libo o cálice dourado
Onde treme o licor da fantasia,
Até cair no chão embriagado,
E vela em sonhos, como sempre a via...

Na solidão atroz deste abandono
Como um sonho consola! Que não venha
Algum ditoso perturbar meu sono.

Não me desfaçam este sonho lindo...
Se quer Deus que eu dormindo os gozos tenha,
Passem de longe e deixem-me dormindo! 

Ernani Rosas

Noite irmã da tristeza e da ansiedade
e das almas, que ignoram a alegria...
Sombra feita de assomo e claridade,
Evocadora ideal da nostalgia!...

Tua boca não canta uma elegia!
Calou-se a vibração da imensidade...
como um soluço à frouxa luz do dia,
ou, névoa, que velara a eternidade!

Não te ouso contemplar a face escura
e prossigo a cismar à luz dos astros...
Escondendo entre as mãos a fronte impura!

Para ocultar-me a lúgubre presença
do teu espectro, que ficou no rastro
da estrela, que lavrou minha sentença!... 

Tobias Barreto

Bela!... nem sentes o ruir da vida,
Celeste arroio que te cobre a planta,
Bafejada dos ecos, estremecida,
Etérea, límpida, impalpável, santa!...

Num fio odoro tua imagem sigo,
Teu nome doce como um hino entoo:
Eleva-me, que amar-te é voar contigo,
Ser águia e de anjo acompanhar-te o voo.

E tua alma também por que não voa?
Podíamos subir, vagar à-toa
Pelo infinito sós;

Eu faria de amor hinos e preces,
Um ninho para ti... Se tu quisesses,
Um ninho para nós... 

Cruz e Souza

Ó Mãos ebúrneas, Mãos de claros veios,
Esquisitas tulipas delicadas,
Lânguidas Mãos sutis e abandonadas,
Finas e brancas, no esplendor dos seios.

Mãos etéricas, diáfanas, de enleios,
De eflúvios e de graças perfumadas,
Relíquias imortais de eras sagradas
De amigos templos de relíquias cheios.

Mãos onde vagam todos os segredos,
Onde dos ciúmes tenebrosos, tredos,
Circula o sangue apaixonado e forte.

Mãos que eu amei, no féretro medonho
Frias, já murchas, na fluidez do Sonho,
Nos mistérios simbólicos da morte! 

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