Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

José Albano

Dize que me amas sempre, amiga minha,
Abril maravilhoso se avizinha
E docemente os verdes campos junca
De malmequeres que não morrem nunca.

Prendem-me os teus cabelos ao meu peito
E nunca este prazer seja desfeito.
De mil flores a vida se perfuma
E nunca cesse esta delicia suma.

Mas antes sempre noite e dia aumente
Cada vez mais constante e mais ardente,
Quando emudece a entrecortada fala.

E o olhar vagos desejos assinala,
Quando amor faz que mais amor se adquira
E o coração a coração suspira.

Cruz e Sousa

Fazes lembrar as mouras dos castelos,
as errantes visões abandonadas
que pelo alto das torres encantadas
suspiravam de trêmulos anelos.

Traços ligeiros, tímidos, singelos
acordam-te nas formas delicadas
saudades mortas de regiões sagradas,
carinhos, beijos, lágrimas, desvelos.

Um requinte de graça e fantasia
dá-te segredos de melancolia,
da Lua todo o lânguido abandono...

Desejos vagos, olvidadas queixas
vão morrer no calor dessas madeixas,
nas virgens florescências do teu sono. 

José Albano

Amar e não viver, senão amando,
Quem pôde imaginar gozo mais brando?
Quando brilha nos olhos a ternura,
Toda desfeita em luz serena e pura.

Quando nasce nos lábios a promessa
E o coração a suspirar começa,
Quando o sorriso fala e o beijo canta
Numa quietação suave e santa.

Amor, não deixa mais que amor nos doa,
E a alma com alma pelo espaço voa.
Vem, casta amiga minha, cristã formosa,

Aonde com a açucena cresce a rosa,
Aonde o cravo se une à violeta,
Antes que maio novos dons prometa... 

Cruz e Sousa

Pelas regiões tenuíssimas da bruma
vagam as Virgens e as Estrelas raras...
Como que o leve aroma das searas
todo o horizonte em derredor perfuma.

Numa evaporação de branca espuma
vão diluindo as perspectivas claras...
Com brilhos crus e fúlgidos de tiaras
as Estrelas apagam-se uma a uma.

E então, na treva, em místicas dormências,
desfila, com sidéreas latescências,
das Virgens o sonâmbulo cortejo...

Ó Formas vagas, nebulosidades!
Essência das eternas virgindades!
Ó intensas quimeras do Desejo...

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