Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Olavo Bilac

De outras sei que se mostram menos frias,
Amando menos do que amar pareces.
Usam todas de lágrimas e preces:
Tu de acerbas risadas e ironias.

De modo tal minha atenção desvias,
Com tal perícia meu engano teces,
Que, se gelado o coração tivesses,
Certo, querida, mais ardor terias.

Olho-te: cega ao meu olhar te fazes...
Falo-te - e com que fogo a voz levanto!
Em vão... Finges-te surda às minhas frases...

Surda: e nem ouves meu amargo pranto!
Cega: e nem vês a nova dor que trazes
À dor antiga que doía tanto!

Artur Azevedo

Há cinco meses já que estão casados.
Da lua de mel os últimos lampejos
Gozam, trocando aborrecidos beijos,
Numa larga poltrona acomodados.

Falam do tempo em que eram namorados...
Tempo menos de amor que dos desejos...
Separam-se, afinal e entre bocejos,
Ele fuma... ela borda... ambos calados.

De repente ela se ergue e o rosto esconde,
Saltando um grito estrídulo, indiscreto.
Ao que o eco da sala corresponde.

Ele interroga-a pálido, inquieto...
Ela trêmula e rubra lhe responde...
Sente no ventre remexer-se um feto. 

Silva Ramos

Quantas vezes me viste sem te eu ver,
E quantas eu te vi que me não viste...
E só agora, ao ver que me fugiste,
Eu vejo o que perdi, em te perder.

Estranha condição do estranho ser
Que alegre vive nesta vida triste:
Que só saibamos em que o bem consiste,
Quando o bem só consiste no morrer.

Quão feliz eu seria, se, na hora
Em que te vi, te visse como agora,
Ideal, nos meus sonhos ideais!...

Se o que eu sinto por ti sentir pudera,
Então, sorrindo, eu te diria: Espera,
E hoje, chorando, não te espero mais.

Olavo Bilac

Sai a passeio, mal o dia nasce,
Bela, nas simples roupas vaporosas;
E mostra às rosas do jardim, as rosas
Frescas e puras que possui na face.

Passa. E todo o jardim, por que ela passe,
Atavia-se. Há falas misteriosas
Pelas moitas, saudando-a respeitosas...
É como se uma sílfide passasse!

E a luz cerca-a, beijando-a. O vento é um choro
Curvam-se as flores trêmulas... O bando
Das aves todas vem saudá-la em coro...

E ela vai, dando ao sol o rosto brando.
Às aves dando o olhar, ao vento o louro
Cabelo, e às flores os sorrisos dando... 

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