Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Nunes Claro

Partiste, e a serra idílica do vento,
do mar, das névoas, mais das grandes luas,
manda dizer-te, amor, neste momento,
que ficou triste, com saudades tuas.

E que, no inverno, enquanto o céu cinzento
tremer nos ramos e chorar nas ruas,
vestirá, com teu lindo pensamento,
as pedras pobres e as roseiras nuas.

E diz mais - que em abril, quando aí saias,
penses, ao ver florir perto as olaias,
naqueles que deixaste sem ninguém.

no sol, nas ervas, no luar, na altura.
- Só não te diz, porque é de pedra dura,
que tu penses, um pouco, em mim também!

Alberto de Oliveira

Mortos para sempre!... Branca, inanimada,
Tu cosida à mortalha escura e fria,
Inda no alvor de teu primeiro dia!
Eu - com ver-te tão cedo amortalhada!

Mortos para sempre! Uma hora de alvorada,
Um minuto de céu quem nos diria
Foi nosso amor nessa manhã sombria,
De receosas lágrimas banhadas!

Mortos, mortos pra sempre!... E hás de em teu leito
Tremer, cuidando que da noite, fora,
Chega um fantasma que te aperta ao peito...

E ao peito, ao peito eu, só, no meu jazigo,
Tua alma pura apertarei - se uma hora
Posso na morte adormecer contigo. 

Noel de Arriaga

Quando num labirinto andei perdido,
labirinto de sonhos e esperanças,
uma voz segredava-me ao ouvido:
O amor é belo enquanto o não alcanças,

Não tenhas pressa que depressa
cansas do que mais hás de ter apetecido.
Receoso de colher desesperanças,
não tocava no fruto proibido.

Porém quando a distância se faz perto,
tornando certo quanto fora incerto,
e a cingir-te em meus braços me disponho,

quando da realidade me avizinho
e do sonho me afasto eu adivinho
que a realidade excede o próprio sonho! 

Alberto de Oliveira

Chove, embrusca-se o tempo, e quando ao frio
Fuzil, trovão, nos côncavos ribombas
Do céu, vejo passar, como num rio
Nadantes monstros, nuvens de éreas trombas.

Só, desta alcova, cárcere sombrio,
Onde entre morte e amor, minha alma, tombas,
Meu ser, meu coração, meus ais lhe envio,
Por céu de bronze solitárias pombas.

Não vê-la, e o tempo ver, que mais redobra
Sombra e noite que envolve a natureza,
Plena de água, de horror, de medo e espanto!

Abro a janela: e a escuridão que sobra
Das coisas, me enche o peito de tristeza,
E, em fina chuva, os olhos meus de pranto. 

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