Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Aníbal Nobre

Muitas vezes se cruza em meu caminho
Com seu sorriso aberto e inocente,
Um pequeno e descalço pobrezinho
Que transmite ternura a toda a gente!

Com dez anos - ou menos -, tão sozinho,
Pede esmola pedindo pão, somente!
Mas a falta de Amor e de Carinho
Nos seus olhos azuis é evidente!

Quando ontem uma esmola lhe quis dar,
Curioso, atrevi-me a perguntar
O que é que transportava na sacola...

Eram só três bocados de pão duro!
- Mas ao ver seu olhar tão grato e puro,
Fui eu quem recebeu a maior esmola!

Mauro Mota

A sombra para sempre refletida
pouco importa que esteja o corpo ausente.
O silêncio do piano, de repente,
rebenta tua valsa preferida.

Canção de Viena, na hora e no ambiente
onde em antigas noites foi ouvida.
A tristeza da tua despedida
Quando as rosas abriam suavemente

O medo de alma que, no escuro, tinhas,
a música dos gestos e da fala,
tuas mãos a tremer dentro das minhas.

A valsa preferida que rebenta,
diáfanos véus em giros pela sala,
teu fantasma dançando a valsa lenta. 

Jenário de Fátima

Quantas bobagens por amor fazemos...
quantas tolices, coisas impensadas...
coisas que depois ao ser analisadas
jamais refletem o senso que temos.

E no fim de tudo quando arrependemos,
e a insônia vem roubando as madrugadas,
as lágrimas que escorrem apressadas,
dão a dimensão daquilo que perdemos.

No dia seguinte, defronte do espelho,
um olhar cansado... exausto... vermelho...
insistentemente parece dizer:

Este teu jeito... teu temperamento...
tu jogaste tudo fora em um momento,
mas tens a vida inteira pra se arrepender... 

Pe. Antônio Tomás

“Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova, tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama, impaciente.

Ao palco em breve surge...pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, e canta e ri, nervosamente.

Aos aplausos da turba, ele trabalha
Para esconder no manto em que se embuça
A cruciante angústia que retalha

No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça”.

Mario Quintana

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!... 

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