Luís Vaz de Camões
Quando de minhas mágoas a comprida
Imaginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquela alma me aparece
Que para mim foi sonho nesta vida.
Lá numa saudade, onde estendida
A vista pelo campo desfalece,
Corro para ela; e ela então parece
Que mais de mim se alonga, compelida.
Brado: não me fujais, sombra benina!
Ela (os olhos em mim com brando pejo,
Como quem diz que já não pode ser),
Torna a fugir-me; e eu, gritando: dina...
Antes que diga mene, acordo, e vejo
Que nem um breve engano posso ter.