Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

set
27

Raul de Leoni

Renascendo no mundo da Quimera,
Ao colhermos a flor da juventude,
É quando o nosso Espírito se ilude,
Julgando-se na eterna primavera.

Mas o tempo na sua mansuetude,
Pelas sendas da vida nos espera,
Junto à dor que esclarece e regenera,
Dentro da expiação estranha e rude.

E ao tombarmos no ocaso da existência,
Nós revemos do livro da consciência
Os caracteres grandes, luminosos!...

Se vivemos no mal, quanta agonia!
Mas se o bem praticamos todo o dia,
Como somos felizes, venturosos!...

set
20

Oldney Lopes

O sonho é um refúgio em que o errante
Eterno amante da paz que procura
Sai da loucura por um breve instante
E, agonizante, sente nele a cura.

É um segundo de uma eternidade
Em que a verdade parece mentira
E se delira crendo a falsidade
De que a maldade perde e se retira

Por isso eu sonho e sempre hei de sonhar
Buscar no sonho o que não posso ter
E ser um sonhador alucinado

Pois que, sonhando, penso estar feliz
Traçando planos sobre um chão que fiz
Onde sonhar jamais será pecado!

set
13

Olavo Bilac

Este, que um Deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
- Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida…
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem, há-de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!

set
06

Augusto dos Anjos

Senhora, eu trajo o luto do passado.
Este luto sem fim que é o meu Calvário,
e anseio e choro, delirante e vário,
sonâmbulo da dor angustiado.

Quantas venturas que me acalentaram!
Meu peito, túmulo do prazer finado,
foi outrora do riso abençoado,
o berço onde as venturas se embalaram.

Mas não queiras saber nunca, risonha,
o mistério de um peito que estertora
e o segredo de uma alma que não sonha!

Não, não busques saber por que, Senhora,
é minha sina perenal, tristonha:
- Cantar o Ocaso quando surge a Aurora.

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