Vinícius de Moraes
Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.
E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Vilma Oliveira
Todos esses meses de agosto
São dias eternos e pungentes
Com tantas lágrimas de desgosto
A compungir a alma da gente!
Entro no meu quarto, a porta fecho,
Entre quatro paredes, eis minha cela,
Desde que nasci esse desfecho...
Durmo com a dor e acordo com ela!
Ingente clamor que me saúda
Rogo de joelhos: Quem me acuda?
Enxuguem o pranto do meu rosto!
Façam findar essa agonia...
Acabem com as noites e os dias...
Nunca mais exista mês de agosto!
Cruz e Sousa
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades
Mares, estrelas, tardes, natureza
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo
Nesses silêncios solitários, graves
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?
Raul de Leoni
Depois da morte, tudo aqui subsiste,
Neste Além que sonhamos, que entrevemos,
Quando a nossa alma chora nos extremos
Dessa dor que no mundo nos assiste.
Doce consolação, porém, existe
Aos amargosos prantos que vertemos,
Do conforto celeste os bens supremos
Ao coração desalentado e triste.
Também existe aqui a austera pena
À consciência infeliz que se condena,
Por qualquer erro ou falta cometida;
E a Morte continua eliminando
A influência do mal, torvo e nefando,
Para que brilhe a Perfeição da Vida.