Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Juvenal Antunes

Para possuir-te, ó bela flor sublime,
Não vacilei ante a perfídia e o dolo,
Para dormir no leito do teu colo,
Loucura cometi, que não se exprime.

Para acalmar esta anciã, que me oprime,
Só nos teus braços sei achar consolo...
Por ti, sem pejo nem temores, rolo
Pela ladeira aspérrima do crime.

Mas, Juvenal, e o teu orgulho de homem?
E as nobres ambições, que nos consomem,
A glória, a inteligência, o bem, o estudo?

Quanto a essas coisas, meu desdém profundo!
Mais nada me interessa neste mundo...
Só tu, querida, para mim, és tudo.

Raimundo Correia

Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de oiro e de púrpura raiados
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.

Guilherme de Almeida

Estas e muitas outras coisas, certo,
eu julgava sentir, quando sentia
que, descuidado e plácido, dormia
num inferno, sonhando um céu aberto.

Mas eis que, no meu sonho, luzidia
passas e me olhas muda. E tão de perto
me olhas, tão junto passas, que desperto,
como se em teu olhar raiasse o dia.

Data de então a página primeira
da nossa história, sem a mais ligeira
sombra de mágoas nem de desenganos.

Bastou-nos, para haver felicidade,
a pujança da minha mocidade
e a flor de carne dos teus verdes anos.

Carlos Arnaud

Por que não entendes? Ó dúvida fria,
Que turva o olhar e a mente enrijece,
Se falo em verso, e a rima enaltece,
A dor que me toma, tem lenta agonia.

Meus signos ocultos em tela sombria,
Arte esculpida, que o tempo enobrece,
Teu peito, austero, jamais reconhece,
O drama que a alma em pranto anuncia.

Nas formas do parecer busco sentido,
No verso preciso, sem mágoa ou alarde.
Mas tu me rejeitas, num tom incontido.

Oh Bela Angelina, sou forma, sou tarde,
E sigo sem voz, sem eco, meio perdido,
Por não entenderes meu soneto covarde. 

Clicky