José Albano
Doce me foi viver, quando sonhava
E entre esperanças e ilusões sorria,
Antes de conhecer a dor sombria
Cuja lembrança na alma inda se grava.
Naquele tempo não adivinhava
A pena sem igual que dura um dia
Mas sempre faz surgir a fonte fria
Que os saudosos olhos banha e lava.
Cansado coração, tu nunca viste
Outro que tanto gozo e mágoa sente,
Outro que a tanto bem e mal resiste.
Amor te castigou severamente,
Pois foste, uma só vez apenas, triste
E nunca mais tornaste a ser contente.
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Augusto de Lima
"É cedo!" - Ao homem uma voz responde,
Quando, recém-nascido, o olhar aberto
Pela primeira vez, levanta incerto,
Interrogando o fado que se esconde.
"É cedo ainda". Do zênite já perto
O espírito, por mais que inquira e sonde,
A mesma voz, que vem não sabe donde,
Repete o cruel dístico encoberto.
Fitando o ocaso, afaga uma esperança.
"Espera", diz-lhe a voz, e não se cansa
De esperar que do ocaso venha a aurora.
E a noite vem. No vítreo olhar silente,
Morto, ainda interroga avidamente...
- Porém, responde a voz: "É tarde agora!"
Cruz e Sousa
Ó cegos corações, surdos ouvidos,
Bocas inúteis, sem clamor, fechadas,
Almas para os mistérios apagadas,
Sem segredos, sem eco e sem gemidos.
Consciências hirsutas de bandidos,
Vesgas, nefandas e desmanteladas,
Portas de ferro, com furor trancadas,
Dos ócios maus histéricos Vencidos.
Desenterrai-vos das sangrentas furnas
Sinistras, cabalísticas, noturnas
Onde ruge o Pecado caudaloso…
Fazei da Dor, do triste Gozo humano,
A Flor do Sentimento soberano,
A Flor nirvanizada de outro Gozo!
Guilherme de Almeida
Vou partir, vais ficar. "Longe da vista,
longe do coração" — diz o ditado.
Basta, porém, que o nosso amor exista,
para que eu parta e fiques sem cuidado.
Dentro em mim mesmo, o coração egoísta,
quanto mais longe, mais te quer ao lado;
tanto mais te ama, quanto mais te avista
e, antes de ver-te, já te havia amado.
Vou partir. Para longe? Para perto?
— Não sei: longe de ti tudo é deserto
e todas as distâncias são iguais!
Como eu quisera que, na despedida,
quando se unissem nossas mãos, querida,
nunca pudessem desunir-se mais!
Pe. Antônio Tomás
Eu fui contar, chorando, as minhas penas
Ao velho mar; e as ondas buliçosas,
Julgando que eu diria essas pequenas
Mágoas comuns ou queixas amorosas,
Não quiseram cessar as cantilenas
Que entoavam nas praias arenosas
Mas, pouco a pouco, imóveis e serenas,
Quedaram todas, por me ouvir ansiosas.
E concluída a narração de tudo,
Mostrou-se o mar (pois nunca tinha ouvido
História igual) sombrio e carrancudo.
Depois, rolando as gemedoras águas,
Pôs-se a chorar também compadecido
Das minhas fundas, dolorosas mágoas.