Manuel du Bocage
Por esta solidão, que não consente
Nem do sol, nem da Lua a claridade,
Ralado o peito já pela saudade
Dou mil gemidos a Marília ausente:
De seus crimes a mancha inda recente
Lava Amor, e triunfa da verdade,
A beleza, apesar da falsidade,
Me ocupa o coração, me ocupa a mente:
Lembram-me aqueles olhos tentadores,
Aquelas mãos, aquele riso, aquela
Boca suave, que respira amores...
Ah, trazei-me ilusões, a ingrata, a bela!
Pintai-me vós, oh sonhos, entre flores
Suspirando outra vez nos braços dela!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Cerra, de vez, as portas de teu seio
Aos nocivos influxos da vaidade.
Encara a dor, o sofrimento alheio,
com olhos de ternura, de piedade.
Frágil mortal: da vida no volteio,
Átomo que és da vil humanidade,
Com esta hás de sentir, num mesmo enleio,
Risos - lágrimas, sonho - realidade...
Ama e sê bom. Aos órfãos da fartura,
Aos párias que o desdém tanto tortura,
Estende, compassivo, os braços teus.
De virtude e não de ouro é feita a escada
Por onde as almas na final jornada,
Sobem, confiantes, aos Portais dos Céus!
Cláudio Manoel da Costa
Estes os olhos são da minha amada,
Que belos, que gentis e que formosos!
Não são para os mortais tão preciosos
Os doces frutos da estação dourada.
Por eles a alegria derramada
Tornam-se os campos de, prazer gostosos.
Em zéfiros suaves e mimosos
Toda esta região se vê banhada.
Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
Do rosto do meu bem as prendas belas,
Dai alívio ao mal que estou gemendo.
Mas ah! delírio meu que me atropelas!
Os olhos que eu cuidei que estava vendo,
Eram (quem crera tal!) duas estrelas.
Dirceu Rabelo
Quem dividiu comigo corpo e alma
E me dava alegria na tristeza
E que me aconselhava agir com calma
Nos momentos difíceis de incerteza.
Hoje nada me diz e não reclama
Disso que lhe aprontou a Natureza:
Já não se lembra mais dos entes que ama
E sem cometer crime vive presa.
Nas algemas fatais da desventura
De carregar a cruz de um mal sem cura,
Que fere muito mais o companheiro,
De quem se escuta agora esta mensagem:
Chegando aos cais da última viagem,
Dos dois é mais feliz quem vá primeiro.