Pe. Antônio Tomás
Muitas vezes cantei, nos tempos idos,
Acalentando sonhos de ventura;
Então da lira a voz suave e pura
Era-me um gozo d’alma e dos sentidos.
Hoje vejo esses sonhos convertidos
Num acervo de penas e amargura,
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos.
E, se tento cantar como remédio
Às minhas mágoas, ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta,
Os sons que arranco à pobre lira agora
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Juvenal Antunes
Entre as do mundo fúteis criaturas,
Já vivi muito mais de onze mil dias;
E, contando alegrias e amarguras,
Tive mais amarguras, que alegrias.
Engolfei em cismares e poesias,
Cantei, como poeta, as coisas puras,
Sem saber, coração, que recolhias
Desilusões passadas e futuras.
Hoje, cético estou. Bem tarde embora,
Vejo só ter razão quem geme e chora,
E quanta ideia vã nos enfeitiça...
De orgulhos e vaidades me desprendo;
E, como um simples verme, vou vivendo
Na calma, na indolência, na preguiça!
Olavo Bilac
Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;
Esta febre, que o espírito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De idéias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista:
Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;
Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que não há na vida!
Luís Guimarães Júnior
Eu vejo-a sempre no final do dia,
Quando os purpúreos flocos do ocidente
Vão descorando harmoniosamente,
Aos gemedores sons da Ave Maria.
Sua estatura de altivez sombria
Passa na vaga luz do sol poente,
Como o fantasma, a sombra penitente
Da antiga Musa solitária e fria.
Direis ao vê-la que uma aguda pena,
Que um martírio satânico e profundo
Morde-lhe as fibras d’alma e as envenena;
E ela percorre as festas deste mundo
Com a santa palidez de Madalena,
E com o olhar do Cristo moribundo.
Juvenal Antunes
Não sou como esses triviais amantes
Que notam faltas na mulher amada
És para mim tão pura e dedicada
Como as que são mais castas e constantes
Quanto mais juras, quanto mais garantes
Mentindo sempre à jura formulada
A minha alma a teus pés ajoelhada
Julga um bem, todo o mal com que a quebrantes
Por ti faria acerbos sacrifícios
Acho adoráveis todos os teus vícios
E Justíssima a tua iniquidade
Faze de mim, se queres, um bandido
Por teu amor é gloria haver perdido
Honra, brio, fortuna e probidade!