Luís Guimarães Júnior
Ao noturno clarão da lâmpada obscura,
A avó, terna, sorri, de pálpebras cerradas,
Enquanto pelo ar voam as gargalhadas
Duma rósea criança, ardente de ventura.
E ela, ao gentil rumor daquela travessura,
Cuida ouvir, como um eco, ao longe, outras risadas:
Mas o seu pensamento cai, de asas quebradas,
Sobre a cruz de uma negra e fria sepultura;
Sufocada de dor, - abaixa a fronte e chora...
O menino a tremer beija-a e, num gesto, a implora:
E a avó, ao deslizar do pranto que a conforta,
Prende nas magras mãos o risonho inocente,
E, como num espelho azul e transparente,
Vê nesse puro olhar sorrir-lhe a filha morta.
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
Arquivos do Blog
Alguns Poetas
- Aécio Cavalcante
- Alberto de Oliveira
- Alphonsus de Guimaraens
- Alvaro Feijó
- Antero de Quental
- Artur Azevedo
- Augusto de Lima
- Augusto dos Anjos
- Auta de Souza
- Belmiro Braga
- Bento Ernesto Júnior
- Corrégio de Castro
- Cruz e Souza
- Cynthia Castello Branco
- Edgard Rezende
- Euclides da Cunha
- Fagundes Varela
- Fausto Cardoso
- Florbela Espanca
- Gregório de Matos
- Guilherme de Almeida
- J. G. de Araujo Jorge
- Júlio Salusse
- Luis Vaz de Camões
- Machado de Assis
- Manuel Bandeira
- Mauro Mota
- Narciso Araujo
- Nilo Aparecida Pinto
- Olavo Bilac
- Paulo Gustavo
- Paulo Mendes Campos
- Pe. Antônio Tomás
- Pe. Manuel Albuquerque
- Raimundo Correia
- Raul de Leoni
- Raul Machado
- Silva Ramos
- Vicente de Carvalho
- Vinícius de Moraes
Top 10 da Semana
-
Carlos Arnaud Na cidade altiva, onde a noite avança, o luar recobre a praça e a nua estrada, brilhando no Prata, pura luz que dança, tecendo...
-
Carlos Arnaud Seu passo é firme, e a graça não disfarça O porte de uma Deusa em sua doce teia, A fronte altiva, a voz que nunca anseia, E os...
-
Florbela Espanca Gosto de ti, ó amiga, nos beirados, Dizendo coisas que ninguém entende! Da tua cantilena se desprende Um sonho de magia e d...
-
Mário Beirão Porque esse olhar de sombra de temor Se perde em mim, às horas do sol posto, Quando é de âmbar translúcido o teu rosto, E a tua...
-
Antero de Quental Espírito que passas, quando o vento Adormece no mar e surge a lua, Filho esquivo da noite que flutua, Tu só entendes bem o...
-
Olavo Bilac Sobre minha alma, como sobre um trono, Senhor brutal, pesa o aborrecimento. Como tardas em vir, último outono, Lançar-me as folh...
-
Carlos Arnaud Ó Mãe, esteio eterno do meu existir, Altar sagrado num templo de bondade, Teus braços, um porto na tempestade, E tuas palavras...
-
Cruz e Souza Grande amor, amor, grande mistério Que as nossas almas trêmulas enlaça... Céu que nos beija, céu que nos abraça Num abismo de l...
-
Carlos Arnaud Minha Bela Angelina, minha Angelouca, Tens a beleza que não cabe num poema. Querias se pudesse, beijar-lhe a boca, Dos prob...
-
Antero de Quental Para tristezas, para dor nasceste. Podia a sorte pôr-te o berço estreito Em algum palácio e ao pé de régio leito, Em ve...
Augusto dos Anjos
Chove. Lá fora os lampiões escuros
Semelham monjas a morrer... Os ventos,
Desencadeados, vão bater, violentos,
De encontro às torres e de encontro aos muros.
Saio de casa. Os passos mal seguros
Trêmulo movo, mas meus movimentos
Susto, diante do vulto dos conventos,
Negro, ameaçando os séculos futuros!
De São Francisco no plangente bronze
em badaladas compassadas onze
Horas soaram... Surge agora a Lua.
E eu sonho erguer-me aos páramos etéreos
Enquanto a chuva cai nos cemitérios
E o vento apaga os lampiões da rua!
Vaine Darde
O meu soneto chora nas goteiras
das casas pobres dos confins das ruas
onde a miséria vem pintar olheiras
nos olhos tristes das meninas nuas.
O meu soneto vai fazer sonata
nessas favelas de famintos lotes
onde os meninos vão virando latas,
comendo a fome que alimenta a morte.
Meu canto sangra por não ter sentido
quando a sirene sonoriza o morro
caçando o anjo que se fez bandido.
Então meu verso é um acorde aflito
que fere a lira pra pedir socorro
e sobe ao morro pra morrer num grito.
Úrsula Garcia
Eu quis levá-la ao cemitério, um dia,
Mas em casa disseram: "Tão criança!"
"É tão longe!... É tão triste!..." Eu insistia:
- Não sabe o que é tristeza, ela, e nem cansa!
A manhã é tão linda! O sol radia,
O ar é tão puro, a brisa fresca e mansa...
É um passeio ao campo. Não faria
Mal algum visitar quem lá descansa...
E eu pensava: - É melhor ir caminhando
Com seus pezinhos, rindo, conversando,
Voltar da cor das rosas que levou...
Não foi comigo... Mas lá foi levada
Numa manhã de sol... - muda, gelada,
Lívida, inerte... E nunca mais voltou.