Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Euricles de Matos

Como eu Vos quero bem, Senhora da Saudade!
Lírio Preto que sois porque viveis de preto,
Parodiando um Martírio estranho e predileto
De um torvo coração, vivendo na orfandade.

E assim não me quereis, Senhora da Saudade!
Vós, toda Compaixão, Vós toda meu Afeto,
Nascida para estar num mundo mais secreto,
A partilhar Amor, Carinhos e Bondade.

E bem triste que sou e bem tristonho vivo,
Cativo dessa Dama e dessa Flor cativo,
Eu tão velhinho já na minha Mocidade!...

E ah! Sonho meu de Amor, estranhamente santo,
Ouvi o que Vos digo, estático de Espanto:
— Como eu Vos quero bem, Senhora da Saudade!...

Olavo Bilac

Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior... Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante,
Por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...

Antônio Licério de Barros

Ainda me perguntas se te amo...
Se aceso tenho aquele sentimento,
Que me fez crer em teu amor profano,
Fonte de todo o meu padecimento...

Por mim responda minha mocidade,
Aos braços teus lançado, loucamente...
Buscando, aflito e a rir, felicidade,
Onde morava a ingratidão, somente.

Falem por mim o meu viver errante...
A ânsia que sinto em buscar distante,
O fim desta agonia prolongada...

Falem por mim os vícios que consomem,
Que martirizam este pobre homem,
Hoje sem fé, sem pão, sem Deus, sem nada...

D. Pedro de Alcântara

Não maldigo o rigor de minha sorte,
Por mais feroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade
Quando a dois passos só estou da morte

Do jugo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos da contínua felicidade
E amanhã nem um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e quase o mata,

É ver na mão cuspir, à extrema hora,
A mesma boca, aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela deu outrora.

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