Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

jun
29

Augusto dos Anjos

Adeus, adeus, adeus! E, suspirando,
Saí deixando morta a minha amada,
Vinha o luar iluminando a estrada
E eu vinha pela estrada soluçando.

Perto, um ribeiro claro murmurando
Muito baixinho como quem chorava,
Parecia o ribeiro estar chorando
As lágrimas que eu triste gotejava.

Súbito ecoou do sino o som profundo!
Adeus! - eu disse. Para mim no mundo
Tudo acabou-se, apenas restam mágoas.

Mas no mistério astral da noute bela
Pareceu-me inda ouvir o nome dela
No marulhar monótono das águas!

jun
22

Osman Assunção

Encontro-te de novo em meu caminho!
És sempre a mesma - fria e indiferente;
Tendo no olhar o mesmo brilho algente,
Sem um raio de amor ou de carinho.

Achas-me em teu caminho novamente!
Sou sempre o mesmo - frágil e mesquinho;
Trazendo na alma o mesmo desalinho
E no meu peito o mesmo fogo ardente.

E nosso olhar se encontra enfim. Anseio
Ofegante de amor e de receio!...
Impassível (até custa dizê-lo)

Tu me fitas com a mesma indiferença,
Assassinando minha velha crença
Com a fria luz de teu olhar de gelo.

jun
15

Felix Pacheco 

Lágrimas... Noutras épocas verti-as.
Não tinha o olhar enxuto, como agora.
- Alma, dizia então comigo, chora,
que o pranto diminui as agonias.

Ah! Quantas vezes pelas faces frias,
por mal do meu amor, que se ia embora.
gota a gota, rolando, elas, outrora,
marcaram noites e marcaram dias!

Vinham do oceano da alma, imenso e fundo,
ondas de angústia, em suspiroso arranco,
numa desesperança acerba e louca.

Nos olhos, hoje, as lágrimas estanco,
mas rolam todas, sem que as veja o mundo,
sob a forma de risos. pela boca.

jun
08

Antero de Quental

Chamei em volta do meu frio leito
As memórias melhores de outra idade,
Formas vagas, que às noites, com piedade,
Se inclinam, a espreitar, sobre o meu peito...

E disse-lhes: No mundo imenso e estreito
Valia a pena, acaso, em ansiedade
Ter nascido? Dizei-mo com verdade,
Pobres memórias que eu ao seio espreito.

Mas elas perturbaram-se - coitadas!
E empalideceram, contristadas,
Ainda a mais feliz, a mais serena...

E cada uma delas, lentamente,
Com um sorriso mórbido, pungente,
Me respondeu: - Não, não valia a pena!

jun
01

Corrêa de Araujo

Ela olhou e passou, graciosa e bela.
Passou... e foi-se para sempre, embora
brilhe em meu coração, desde tal hora,
ditosa, a doce luz dos olhos dela...

Estrela que no azul cintila e mora,
viu-a o Poeta e emocionou-se ao vê-la;
e amou a estrela doidamente, e a Estrela
fugiu, fulgindo, pelos céus afora...

Desde então, muitos anos já passaram;
talvez haja fechado - a garra adunca
da morte, - os olhos que me deslumbraram..

Neste vale de lágrimas e abrolhos,
viva cem anos, não verei mais nunca
olhos tão lindos como aqueles olhos!

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