Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

abr
28

Cesare

Grita forte o sentimento no peito
Prenuncia o frio; mas ainda há calor!
Folhas caem formando o doce leito
E o coração bate temendo a dor!

Reverentes, corpos e almas se fundem
Na dança plena de amor e agonia!
Olhos ternos, inutilmente, escondem
A convicção do adeus ao final do dia!

O outono prosseguirá na memória
Sendo estação do renascer dos sonhos!
Haverá quadros moldando tal história

E o mais belo fala do querer tamanho
Capaz de arriscar a vida simplória
E renunciar aos versos que componho!

abr
21

Raimundo Correia

Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,
Este amor infeliz, como se fora
Um crime aos olhos dessa, que ela adora,
Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida.

A crua e rija lâmina homicida
Do seu desdém vara-me o peito; embora,
Que o amor que cresce nele, e nele mora,
Só findará quando findar-me a vida!

Ó meu amor! como num mar profundo,
Achaste em mim teu álgido, teu fundo,
Teu derradeiro, teu feral abrigo!

E qual do rei de Tule a taça de ouro,
Ó meu sacro, ó meu único tesouro!
Ó meu amor! Tu morrerás comigo!

abr
14

Guilherme de Almeida

Infeliz de quem passa pelo mundo,
Procurando no amor felicidade:
A mais linda ilusão dura um segundo;
E dura, a partir daí, tristeza e saudade.

Repleto é o amor no íntimo mais profundo.
Onde esconde a linda jóia da verdade;
E só depois de vazia, mostra o fundo.
Só depois, embriaga-se a felicidade.

Eis aqui mais um enamorado descontente,
Escutando a palavra confidente
Que o coração murmura, e a voz não diz.

Percebo afinal meu pecado:
Quanto me falta para ser amado.
Quanto me falta para ser feliz.

abr
07

Vinícius de Moraes

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica…

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