Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

dez
31

Juliana S Valis

Um outro ano nasce após dias de parto
Em meio às dores do tempo e da esperança assídua
Como se existisse sempre um momento exato
Para encontrar constância nos rumos sem saída

Um outro ano morre após dias de luta
Em meio às dores do luto e da ilusão contida
Como se houvesse sempre lágrima a ser enxuta
Para iluminar cada sorriso que emana vida

Um outro ano é apenas novo se encontrar mudança
Nos caminhos que cada um percorre diariamente
E nas trilhas que um sonho puro quase sempre alcança

Um outro ano é apenas novo se corrigir o mundo
Em prol da paz que um tempo etéreo e sublime sente
Ao impregnar felicidade no que há de mais profundo

dez
24

Pedro J. Bondaczuk

É noite de Natal… Estrelas reluzentes
salpicam o céu, este infinito luzeiro.
Na sala, sob a árvore, estão os presentes.
As luzes, piscando, iluminam o pinheiro.

Só, reflito em fatos antigos e recentes,
nos ganhos e perdas deste ano, no final,
nos mui queridos amigos e nos parentes
que estão distantes nesta noite de Natal.

Penso, sobretudo, em você, amiga ausente,
no que gostaria de receber e dar,
no seu grande carinho e generosidade,

no seu sorriso e franqueza no olhar,
pois só quero, amiga, como maior presente,
o rico penhor da sua eterna amizade!

dez
17

Gilka Machado

O prazer nos embriaga, a dor nos alucina;
só tu és a verdade e és a razão, Tristeza!
— flor emotiva, rosa esplêndida e ferina,
noute da alma, fulgindo, em astros mil acesa.

Não te amedronta o mal, o bem te não fascina,
és o riso truncado e a lágrima represa;
posta entre o gozo e a dor — satânica e divina —
moves eternamente um pêndulo — a incerteza.

Etérea sedução das longas horas mortas,
horas de treva e luz; mistério do sol-posto;
mal que não sabes doer e bem que não confortas...

Trago dentro de mim, desde que me acompanhas,
um veneno de mel, um mortífero gosto,
um desgosto em que gosto alegrias estranhas.

dez
10

Emílio Kemp

Vão-se os dias passando e cada dia
Que chega, traz consigo as mesmas cores
Desta perene e atroz melancolia
Que me prende num círculo de horrores!

Se desta dor que tanto me crucia,
Busco esquecer-me, procurando amores,
Neles, somente, encontro — que ironia! —
Novos motivos para novas dores!...

E assim vivendo, eu vou como um precito
Que por estradas lúgubres caminha,
Rasgando os pés em pontas de granito.

Que importa a mim que a luz do sol se ria,
Se é tão profunda esta tristeza minha
Que eu já nem sei se fui alegre um dia!

dez
03

Alberto de Oliveira

O homem, no último dia, abatido em seu horto,
Sente o extremo pavor que a morte lhe revela;
Seu coração é um mar que se apruma e encapela,
No pungente estertor do peito quase morto.

Tudo o que era vaidade, agora é desconforto.
Toda a nau da ilusão se destroça e esfacela
Sob as ondas fatais da indômita procela,
Do pobre coração, que é náufrago sem porto.

Somente o que venceu nesse mundo mesquinho,
Conservando Jesus por verdade e caminho,
Rompe a treva do abismo enganoso e perverso!

Onde vais, homem vão? Cala em ti todo alarde,
Foge dessa tormenta antes que seja tarde:
Só Jesus tem nas mãos o farol do Universo.

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