Os Mais Belos Sonetos

Coletânea de sonetos escritos por poetas brasileiros, lusos e de outros paises

Luís Edmundo

Há uma lágrima sempre atenta em nossos olhos;
Branca, redonda, clara, adamantina, pura,
E assim como no mar os traiçoeiros escolhos,
Ela, escondida, a flor das pálpebras procura,

E, aí fica parada. Os íntimos refolhos
De nossa alma reflete, e quando uma ventura
Em riso nos entreabre os lábios com doçura,
Ela, a lágrima, fica a nos tremer nos olhos.

Tu que és moça e que ris, e não sabes da mágoa
Da vida, tem cuidado! Olha essa gota d'água;
Se não queres, da vida, achar-te entre os abrolhos

Ri, mas ri devagar, que a lágrima traiçoeira,
Talvez por te ver rir assim dessa maneira,
Trema e caia, afinal, um dia dos teus olhos!

Alfredo de Assis

No pranto da criança não diviso
Mágoa nenhuma, é tudo luz e encanto;
Tem, nuns restos de céu e paraíso,
Toda a alegria matinal de um canto.

Mas, de um velho, num rápido sorriso,
Mágoas profundas eu percebo entanto!
No pranto da criança há quase riso,
No sorriso do velho há quase pranto!...

Ri-se o velho, é um pôr de sol que chora;
Chora a criança, é como se uma aurora
Num chuveiro de pérolas se abrisse;

E tem muito mais luz, mais esperança,
A lágrima nos olhos da criança
Que o sorriso nos lábios da velhice!...

Aluísio de Azevedo

Calcula, minha amiga, que tortura!
Amo-te muito e muito, e, todavia,
Preferira morrer a ver-te um dia
Merecer o labéu de esposa impura!

Que te não enterneça esta loucura,
Que te não mova nunca esta agonia,
Que eu muito sofra porque és casta e pura,
Que, se o não foras, quanto eu sofreria!

Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses
Com teus beijos de amor, meus lábios tristes,
Com teus beijos de amor, as minhas faces!

Persiste na moral em que persistes.
Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,
Mas quanto sofro mais porque resistes!

Bastos Portela

És moça e bela. Assim, hoje pões e dispões;
E, feliz, num requinte fátuo de vaidade,
Vais pela vida, altiva, a esmagar corações...
Nada encontras no amor que te amargure ou enfade!

Mas, quando, um dia, enfim, atingires a idade
Em que se perdem, para sempre, as ilusões,
Tu me dirás, então, o que é sentir saudade
E o que é chorar no horror de longas solidões...

A beleza desfeita, humilde, decadente,
Serás a flor que, num jardim, murcha e descora,
Ao crepúsculo azul da tarde, mansamente...

E vendo-te passar, como os fantasmas, eu...
Eu sofrerei, talvez, como quem lembra ou chora
Uma bela mulher que se amou, e morreu!

Otávio Rocha

“Venha me ver sem falta... Estou velhinha.
Iremos recordar nosso passado;
a sua mão quero apertar na minha
quero sonhar ternuras ao seu lado...”

Respondi, pressuroso, numa linha:
“Perdoe-me não ir... ando ocupado.
Ameia-a tanto quanto foi mocinha
e de tal modo também fui amado.

Passou a mocidade num relance...
Hoje estou velho, velha está... Suponho
que perdeu da beleza os vivos traços.

Não quero ver morrer nosso romance...
Prefiro tê-la, jovem no meu sonho,
do que, velha, apertá-la, nos meus braços!

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