Olegário Mariano
Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alívio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
Não vale o que te dei de encantamento.
Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.
Hoje, ambos à mercê de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.
Padecemos idêntico suplício:
Tu - corroída de pena e de remorso,
Eu - com vergonha do meu sacrifício.
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Vespasiano Ramos
Desde este instante, sem cessar, maldigo,
Aquele instante de felicidade!
Para que tu vieste ter comigo,
Meu amor! Minha luz! Minha saudade?!
Dês que te foste, foram-se contigo
Todos os sonhos desta mocidade...
A tua vinda — fora-me um castigo;
A tua volta — uma fatalidade!
Dês que te foste, dentro em mim plantaste
A ânsia infinita dos desesperados
Porque voltando, nunca mais voltaste...
Correm-me os dias de aflições, cobertos:
Eu entrei para o amor de olhos fechados
E saí para a dor de olhos abertos!
Corina Rebuá
Como faz frio neste quarto agora!
A chuva bate em cheio na vidraça.
E o relógio da igreja, de hora em hora,
Soa. Há passos na rua... E a ronda passa...
Não consigo dormir. Como demora
Esta vigília que me torna lassa!
Se abro um livro, não leio. E lá por fora
Chove. Há passos na rua... E a ronda passa...
Dormes? Não creio. Eu sei que estás velando,
Porque eu pressinto que, de quando em quando,
Vem o teu corpo fluídico e me enlaça.
O relógio da igreja está batendo.
São quatro horas. Que insônia! Está chovendo.
Ouço passos na rua... E a ronda passa...
José Mariano de Oliveira
É aqui, no estreito espaço onde vieste
Sonhar na eterna noite sossegada,
Que ora dormes teu sono, acompanhada
Daquela mesma que, ao partir, me deste.
Mortas tão cedo! Como tu morreste,
Da vida no começo da jornada,
Nossa filha, entre nós tão desejada,
Desceu também à noite a que desceste!
Iguais na idade e na meiguice tanta!
Ela me acompanhava na amargura
Que desde a tua morte que quebranta.
Tua imagem com a dela se mistura...
Vejo-vos ambas, cada qual mais santa,
Amo-vos ambas, cada qual mais pura.
Olavo Dantas
Do teu amor bem sei só a lembrança
Posso guardar como um ditoso alento,
Pois adorar alguém sem esperança
É o eterno prazer no sofrimento.
Meu poema de amor e sentimento
Componho com a alegria da criança
Que não sabe que o mundo é só tormento
E o bem que mais se quer menos se alcança.
Mas se algum dia, festival, risonho,
Realizar-se o milagre do meu sonho,
Pensarei recompor o Paraíso.
Igual a um semi-deus, hei de encontrar
As delícias da terra em teu sorriso,
As doçuras do céu em teu olhar...