Cruz e Sousa
Ó alma doce e triste e palpitante!
Que cítaras soluçam solitárias
Pelas Regiões longínquas, visionárias
Do teu Sonho secreto e fascinante!
Quantas zonas de luz purificante,
Quantos silêncios, quantas sombras várias
De esferas imortais imaginárias
Falam contigo, ó Alma cativante!
Que chama acende os teus faróis noturnos
E veste os teus mistérios taciturnos
Dos esplendores do arco de aliança?
Por que és assim, melancolicamente,
Como um arcanjo infante, adolescente,
Esquecido nos vales da Esperança?!
Quem sou eu
- Carlos Arnaud de Carvalho
- São Domingos do Prata, Minas Gerais
- E nestas lutas vou cumprindo a sorte, até que venha a compassiva morte, levar-me à grande paz da sepultura.
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Francisco Joaquim Bingre
Se a ti, onde Amor leva o pensamento,
Meu triste coração levar pudesse,
Dó terias, cruel, do que padece,
Se ainda em teu peito cabe sentimento.
Amar sem possuir é um tormento
Que só quem o suporta é que o conhece.
Não o conheces tu, pois te arrefece
Sempre, na ausência, o frio esquecimento.
Tu tens um coração que se persuade
Deve amar só quando se deleita
Na posse do prazer, da sociedade.
O meu segue outra estrada mais direita,
Ama distante, ferem-no a Saudade
O Ciúme infernal, a vil Suspeita.
Augusto dos Anjos
Ela é o tipo perfeito da ariana,
Branca, nevada, púbere, mimosa,
A carne exuberante e capitosa
Trescala a essência que de si dimana.
As níveas pomas do candor da rosa,
Rendilhando-lhe o colo de sultana,
Emergem da camisa cetinosa
Entre as rendas sutis de filigrana.
Dorme talvez. Em flácido abandono
Lembra formosa no seu casto sono
A languidez dormente da indiana.
Enquanto o amante pálido, a seu lado
Medita, a fronte triste, o olhar velado
No Mistério da Carne Soberana.
Luís Guimarães Júnior
Por entre as largas filas silenciosas
Das sepulturas mal iluminadas,
Rugem as negras sedas odorosas,
Ao compasso de excêntricas risadas.
As grinaldas, de goivo entrelaçadas,
À frouxa luz das velas lacrimosas,
Rolam no pó dos túmulos, – lançadas
Da mesma sorte qual no palco as rosas.
Vão pela mão das nobres elegantes
As crianças risonhas, – cintilantes
De uma feroz e estúpida alegria:
Cruzam-se olhares de malícia, – enquanto
Os mortos sentem gotejar o pranto...
Que chora o orvalho quando expira o dia.